Thomas Morus forja no século XVI o termo utopia (não lugar), título que dá ao livro sobre uma ilha de organização social exemplar. A descrição dos costumes e leis da ilha fictícia tece por contraste a crítica à Inglaterra histórica do seu tempo. No século XIX, Stuart Mill cunha o termo distopia, significando o oposto de utopia. Entre Morus e Mill, no século XVII, Thomas Hobbes fez alusão ao monstro bíblico Leviatã para demonstrar a necessidade da figura soberana do Estado para coibir a natureza humana que, na visão dele, seria uma guerra de todos contra todos. Em outro livro de sua autoria cujo título referencia uma criatura bíblica, Behemoth narra o descontentamento com os eventos revolucionários da guerra civil britânica entre 1640 e 1660. Se Utopia e Leviatã narram uma representação de um sistema político ideal, Behemoth trata do autoritarismo por parte de um governo abusivo. Não por acaso, o cientista político alemão Franz Neumann também usou a figura de Behemoth para desvelar a estrutura do partido nazista na Alemanha entre Guerras.
A partir dessas figuras, o objetivo desse trabalho é refletir sobre as estratégias infocomunicacionais da extrema direita brasileira contemporânea. Para isso, busca-se traçar semelhanças entre os posicionamentos ideológicos sedimentados no Orvil - um livro que nasceu dentro das Forças Armadas brasileiras para tentar justificar a instauração do golpe militar de 1964 – e outras manifestações recentes da ultradireita, como por exemplo a produtora de vídeos Brasil Paralelo e o Instituto Mises Brasil. Mas para esclarecer essa corrente de influência, é fundamental considerar o pensamento de Olavo de Carvalho. É inegável que Carvalho, além de conselheiro do Planalto, representou um elo importante entre o pensamento radical das Forças Armadas durante o Regime Militar e o florescimento da nova direita no Brasil.
Uma das estratégias do grupo é o uso de teorias da conspiração para justificar ataques contra grupos políticos adversários. Orvil, Carvalho e Brasil Paralelo atacam violentamente, todos os grupos que consideram contrários aos seus posicionamentos ideológicos como as universidades, a classe artística e a mídia tradicional. A esses, dão o nome amorfo de “comunistas” a quem direcionam ataques desumanizantes. A estratégia – comumente utilizadas por regimes fascistas – já foi estudada por inúmeros pensadores. Destaca-se aqui o pensamento de Hannah Arendt: “Os acontecimentos políticos conspiram silenciosamente com os instrumentos totalitários inventados para tornar os homens supérfluos”. (ARENDT, 1998, p. 510).
As redes sociais são a principal plataforma para a disseminação das ideias da extrema-direita brasileira contemporânea. Rocha denuncia uma guerra cultural insuflada por uma retórica do ódio sustentadas por esse grupo ideológico e que dão o tom do governo em gestão: “a guerra cultural bolsonarista, que se beneficia de uma técnica discursiva, a retórica do ódio, ensinada nas últimas décadas por Olavo de Carvalho, conduzirá o país ao caos social, à paralisia da administração pública e ao déficit cognitivo definidor do analfabetismo ideológico. (ROCHA, 2021. p. 17).
Esta apresentação sintetiza pesquisa de doutorado em curso, que busca entender a lógica interna e as estratégias infocomunicacionais da extrema direita brasileira contemporânea.
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