Na virada do século XX, assistimos à passagem do capitalismo concorrencial ao capitalismo monopolista e o desenvolvimento cultural com a instauração da hegemonia da cultura americana, erguida como ordem superior pela imposição das forças prepotentes do capital para, através do mercado, se impor como verdadeiras indústrias da consciência. A indústria cultural vai cumprir um duplo papel: de um lado através da ação mercadológica da publicidade, determinante para a disseminação da cultura do consumo reinante em nossos dias – e a reprodução ampliada do capital, e de outro, através da propaganda política, na função de aparelho ideológico do Estado, determinante para a manipulação política das massas alienadas, incorporadas às democracias pelo voto universal. Nesse contexto, a produção cultural hegemônica passa a ser realizada pelo próprio capital e através da mediação da cultura popular, com a incorporação das massas consumidoras. Eis o contexto no qual propomos analisar a natureza do trabalho - e do trabalho cultural - e a condição humana de animal laborans, sobretudo pela submissão da força de trabalho ao processo de criação de valor, condição na qual o trabalhador vê-se submetido às condições sociais de produção do capitalismo e negligenciado seu próprio potencial criativo, onde o trabalho cultural é tratado como trabalho improdutivo pela Economia Política. A problemática do trabalho apresenta-se como problema epistemológico e ontológico tornando-se ainda mais evidente quando temos em mente a condição do trabalho alienado e sua transformação em mercadoria desvalorizada, nas condições sociais impostas pelo capitalismo monopolista em nossos dias. Além de refletir sobre o desenvolvimento cultural e as condições sociais de produção de hegemonia através da Indústria Cultural, com base na Escola de Frankfurt, queremos rever a noção de alienação e de trabalho alienado formulado por Marx (2021) e a visão de Lafargue (2000), diante das profundas contradições envolvendo a exploração do trabalho vivo pelo capital, e a desvalorização do trabalho pelo aprofundamento da lógica rentista da financeirização global e o resultado das políticas neoliberais, submetendo o trabalho à lógica especulativa, deflagrando a crise do trabalho e do emprego como crise estrutural do modo de produção capitalista. Daí a crítica da EPC ao processo de subsunção do trabalho intelectual e da intelectualização geral dos processos de trabalho, em sua dupla contradição: na relação capital-trabalho e os processos de exploração subjacentes e na contradição entre economia e cultura, que caracteriza o capitalismo desde os primórdios, aprofundando-se em nossos dias (BOLAÑO, 2002; 2015). Queremos relativizar a crença absoluta no trabalho – o trabalho para a vida, o trabalho pela vida e o trabalho como vida - e em seu poder de transformação da sociedade, contrariamente analisando sua tendência à desmesura e seu alastramento por todas as dimensões da existência (KAMPER, 1998). Por fim vamos refletir sob o papel do trabalho – e do trabalho cultural - como instância de produção de valor e dimensão da existência humana, refletindo sobre a tendência do trabalho à desmesura, que invade todos os cantos e recantos de nossa existência, reduzindo a própria vida à dimensão do trabalho.
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