O artigo parte de uma articulação entre as correntes da Economia Política da Comunicação, de viés materialista histórico-dialético, e da Economia de Mídia, tributária da pesquisa administrativa norte-americana do início do século XX, para propor uma classificação das empresas e dos serviços que estas fornecem a veículos jornalísticos.
Usa-se aqui a noção de “taxonomia econômica” para categorizar esses fornecedores. Taxonomia econômica é um método de classificação sistemática de organizações de acordo com a atividade produtiva que exercem, ou o meio pelo qual geram valor. É usada, por exemplo, pelo Estado para classificar firmas e prestadores de serviços para fins de tributação, bem como pelo capital privado para fazer pesquisa de concorrência (benchmarking) e direcionamento de investimentos por setor. No Brasil, dois usos oficiais de taxonomia econômica são o Cadastro Nacional de Atividades Econômicas (CNAE), gerido pelo IBGE, e a Nomenclatura Brasileira de Serviços (NBS), mantida pelo Ministério da Economia.
A teoria organizacional do jornalismo, majoritariamente elaborada no auge da imprensa industrial (décadas de 50 a 90 do século XX), era condizente com a realidade da mídia naquela fase histórica do capitalismo, organizada em grandes trustes verticais que controlavam as etapas de produção e circulação das mercadorias e dos serviços midiáticos. Esta, no entanto, não é mais a realidade do setor. A terceirização de serviços é uma norma no capitalismo tardio, e as indústrias culturais acompanham-na. No jornalismo, isso se reflete na multiplicidade de firmas que passaram a existir no século XXI, explorando a prestação de serviços para redações de veículos, seja por inovação tecnológica e processual, seja em substituição a atividades exercidas antes pela estrutura interna e pelo pessoal do quadro de funcionários da empresa jornalística.
Nesse cenário, veículos jornalísticos têm recebido uma crescente oferta de serviços prestados por empresas externas para “racionalizar” suas rotinas, aumentar a produtividade e cortar custos operacionais. Geralmente, tais empresas – que podem variar de pequeno a grande porte – vendem funções e recursos que substituem o trabalho de jornalistas nas redações, numa tendência cada vez maior à terceirização e à automação. No conjunto, compõem um subsetor que aqui se propõe chamar de atividades-meio do jornalismo. São, como o nome indica, serviços e produtos (especialmente de software) oferecidos às redações dos veículos como “facilitadores” das rotinas de produção da notícia.
Estas atividades-meio são categorizadas numa sistemática em função dos tipos de serviços que as firmas prestam às empresas jornalísticas e dos papéis que cumprem no setor econômico da mídia. Nessa proposta, que exclui agências de notícias, as atividades-meio são agrupadas em seis setores:
1) gestão de conteúdo editorial;
2) publicador digital de páginas;
3) nuvem de publicações (banca virtual);
4) distribuidor de releases e notícias;
5) representação comercial e planejamento de publicidade; e
6) cooperação entre jornais e revistas.
Na contextualização da discussão, confrontam-se as reflexões teóricas formuladas recentemente sobre o trabalho no jornalismo com as mudanças estruturais das rotinas produtivas. Com isto, espera-se lançar bases conceituais mínimas para toda uma seara de pesquisas na Economia Política do Jornalismo que ainda falta ser explorada.
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