Os smartphones se tornaram indispensáveis no cotidiano de muitas pessoas. No Brasil, mais de 80% da população possui celular e mais de 90% das pessoas acessa a internet por esse dispositivo (MEIRELLES, 2022). O quantitativo de informações que os smartphones carregam sobre um indivíduo é praticamente inconcebível humanamente até mesmo para seus proprietários (agenda, contatos, e-mails, fotos etc.), visto que tudo que é feito no aparelho deixa dados que são coletados e analisados por máquinas.
Há um império de empresas altamente tecnológicas cujo negócio principal é baseado em plataformas de uso exaustivo de dados, Morozov (2018) as chama de Big Tech. Essas empresas têm ditado novas regras na economia global, mas seu poder não se limita a questão econômica, está, também, na política mundial e no aspecto comportamental dos indivíduos.
A coleta massiva e a análise cada vez mais assertiva dos dados geram informações muito úteis ao usuário de seus serviços, como a facilidade de identificar um local e a melhor rota para chegar até ele por aplicativos de geolocalização e monitoramento de trânsito. Todavia, isso gera o risco de adesão ao que é apontado pelo aplicativo sem questionamento, visto que, geralmente, ele é preciso.
A partir da hipótese de que o indivíduo pode desenvolver uma dependência da checagem de plataformas de monitoramento e análise de dados para basear sua tomada de decisão, levantamos o seguinte questionamento: os dados fornecidos pelos algoritmos da Big Tech são capazes de auxiliar um sujeito na tomada de decisão respeitando sua individualidade e necessidade?
Por meio da leitura de textos aplicados na disciplina de Ética da Informação, ministrada no Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação no convênio IBICT/UFRJ pelos professores Arthur Coelho Bezerra e Marcos Schneider, apontamos para duas vertentes para responder a questão: a econômica - que indica a inferência de dados que não necessariamente sejam os ideias para o indivíduo, pois os algoritmos das Big Techs seguem a lógica do big data que faz projeções para o mercado e gera receitas, como estratégia para comercialização, a fim de manipular o indivíduo a escolher o que é mais rentável para empresa (ZUBOFF, 2019); a ética - máquinas não compreendem assuntos éticos, pois trata-se de algo inteiramente humano e social, a forma como máquinas são programadas para realizar processos decisórios não é transparente e o algoritmo utilizado para decidir pode ser racista, machista, de alguma forma apresentar indícios discriminatórios inicialmente imperceptíveis e, sobretudo, injusto (CAPURRO, 2009; BELONI, 2021).
A fé nos dados como base do processo decisório de um sujeito traduz um movimento intitulado Dataísmo (BROOKS, 2013; HARARI; 2016) que tem ganhado força e é uma das principais causas da expansão da Big Tech. Deste modo, compreendemos que seguir os dados cegamente ou a adesão ao dataísmo significa ficar suscetível a direcionamentos antiéticos e manipulados pela busca do lucro, porém, a partir do pensamento crítico, o sujeito, pode, em alguma proporção, identificar se, de fato, os dados estão lhe servindo, não apenas servindo às empresas que compõem o império do big data.
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