O presente trabalho reflete a informação em disputa, pelas forças sociais, desde o seu primeiríssimo estágio. Tal lide decorre das implicações inerentes à informação enquanto fenômeno social, político e cultural com forte vocação para a comunicação de valores, ideologias, e sua retenção, recurso estratégico para acumulação de capital.
Considerada “recurso fundamental para a condição humana no mundo” (ARAÚJO, 2009, p. 6); e direito humano fundamental (ONU, 1948; 1966), a informação, em sua natureza, é afetada por contradições que se manifestam desde o momento decisório sobre a elaboração de suas políticas de acesso, haja vista as diversas implicações da apropriação da informação na consciência dos sujeitos.
Trata-se de uma reflexão de natureza teórica, observada pelas lentes do materialismo histórico dialético na área de Economia Política da Informação, Comunicação e Cultura, envolvendo, especialmente, as Ciências da Informação, Comunicação e Sociais no intuito de colaborar com desenvolvimento da categoria “informação” no cenário das múltiplas determinações da realidade histórica, social e material. Constitui objetivo deste trabalho identificar os ímpetos que determinam a formação do “modo de informação” (POSTER, 2013) dominante cujas consequências pendulam entre a abundância de informação para certos grupos e escassez de informação para outros, numa lógica de acumulação informacional que convencionamos chamar de economia política do segredo.
O termo germinal entitula obra de Zola (1993) e se faz útil nesta reflexão pela conotação ali conferida: a necessidade da germinação para futuras colheitas (ali, figurativamente, quem germina são trabalhadores/as de minas de carvão ao despontarem à terra, revindicando melhores condições de trabalho); ainda, por etimologicamente remeter a germe, embrião, àquilo que está em primeiríssimo estágio de desenvolvimento (HOUAISS & VILLAR, 2001). Considerando a informação como “conhecimento em estado de compartilhamento” (GOMES, 2020, p. 9), utiliza-se aqui o termo germinal da informação para tratar do momento subterrâneo da informação, em que esta ainda não emergiu e, portanto, não brotou para a evidência pública, estando em fase de interação, ainda que em instância microfísica: curadoria, custódia e/ou planejamento de sua mediação.
Destaca-se que para compreender a dialética do germinal da informação na arena da luta de classes é preciso, antes de tudo, caracterizar o “Estado informacional” (BRAMAN, 2006) como supramediador da informação, enquadrando-o na teoria da mediação discutida na Ciência da Informação.
Dito isso, ressalta-se que é preciso articular os conceitos de mediação da informação (ALMEIDA JÚNIOR, 2015), regime de informação (FROHMANN, 1995), modo de informação (POSTER, 2013) e vontade de verdade (FOUCAULT, 2013) para entender como o Estado, visto como balcão de negócios da burguesia (MARX, 2007) e movido pelos ímpetos da classe hegemônica, se utiliza da superestrutura para conformação da realidade social e histórica por meio das ações e políticas de informação.
Se “as ideias da classe dominante são, em cada época, as ideias dominantes” (MARX & ENGELS, 2007, p. 47), é a vontade de verdade, tributária da hegemonia, que determina o modo de informação dominante, comprometendo o germinal de outras possibilidades de informação como substrato para uma verdadeira democracia, o que demanda, portanto, fundamentos para uma ética pública para a informação.
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