O presente artigo propõe um olhar sobre o que chamamos de uma janela inicial de observação de motoristas de Uber dentro de um contexto do capitalismo de plataforma. Por meio de metodologia baseada meramente em um quadro teórico e um processo de observação não-participante em grupos de WhatsApp, a presente investigação tem como central inquietação uma compreensão de modos de ser e se apresentar por parte de motoristas Uber, além de um entendimento profícuo sobre possíveis pistas que sustentam as lo?gicas de um fenômeno de exploração laboral contemporânea.
Aproximamos o nosso olhar, de forma inicial e ainda preliminar, para modos de ser de se apresentar nas redes por parte dos motoristas Uber. Como um ambiente comunicacional amplamente disseminado e democratizado no dia a dia dos brasileiros, o WhatsApp nos servirá como uma janela inicial de observação de público de trabalhadores. Sem representatividade estatística e sem buscar conclusões que representem o universo, nos concentramos em apenas dois grupos específicos de motoristas na obtenção de pistas iniciais sobre esse tipo de trabalhador. O que postam? O que escrevem? Sobre o que dialogam? Que tipo de conteúdo disseminam e consomem? Como enxergam o próprio mundo do trabalho a que estão submetidos? Que dificuldades possuem? Como se comunicam entre si? Desejamos também verificar se há indícios de elementos da lógica da neoliberal, que seriam integrantes de nosso tecido cultural e que oferecem tração a um ideário empreendedor que seduz trabalhadores para esse modo vil e moderno de exploração. Por fim, temos intenção de refletir sobre possíveis entrelaçamentos percebidos sobre o próprio capitalismo, a comunicação e o consumo. A metodologia adotada é a pesquisa bibliográfica para a análise crítica e comparativa das perspectivas autorais, complementada por meio de um processo exploratório empírico em grupos de WhatsApp de motoristas. Por meio de análise textual e imagética dos conteúdos disseminados e produzidos pelos integrantes nos dois grupos, buscamos efetuar uma estruturação de categorias das respectivas temáticas de interações dos motoristas.
Diante do exposto, trabalhamos com a hipótese que um jeito de pensar neoliberal, instalado, impregnado e espraiado em nosso tecido social, tem o poder de atenuar essas formas vis de lideranc?a e de gesta?o de pessoas. A lógica neoliberal, que preza pela exacerbação da competição, do ranking, do desejo de ser campeão, de se ter prestígio e da busca constante pelo sucesso é um elemento determinante na estratégia discursiva e publicitária da Uber. Na intenção de se obter respostas em relação à problematização efetuada, nos serviremos de análise dos conteúdos publicados pelos motoristas a partir da convocação de aportes teóricos do campo da comunicação, consumo, sociologia do trabalho, publicidade, capitalismo e neoliberalismo. Evidenciou-se que por meio do uso de jogos discursivos empregados por eles, que esses indivíduos se servem de consumo simbólico do imaginário, associado a um jeito de pensar e de ver o mundo de acordo com uma lógica neoliberal, que é impregnada e espraiada em nossa teia social, e que dá tração e disfarça esse modo vil de açoitamento social e precarização de trabalhadores.
Comissão Organizadora
Ulepicc-Brasil
Comissão Científica