Os limites do jornalismo: a morte de um jornal local

  • Autor
  • Fábio Alves Silveira
  • Resumo
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    Este artigo traz parte dos resultados de um estudo de caso sobre o Jornal de Londrina, diário que circulou entre 1989 e 2015 na cidade paranaense que emprestou o nome ao veículo. Trata-se da tese de doutorado do autor, defendida em 2020 junto ao programa de pós-graduação em Comunicação da FAAC/Unesp. O JL, como era chamado, começou com um grupo de jornalistas influenciados por experiências de cooperativas de jornalistas que surgiram em alguns lugares do Brasil na década de 80, incluindo Londrina. Eles se associaram a um grupo de empresários, principalmente da construção civil, que se alinhavam ao grupo político do ex-prefeito e ex-deputado federal Wilson Moreira, também ele empresário. O jornal nasceu com uma linha editorial combativa, com tom oposicionista e críticas à gestão de outro ex-prefeito, Antonio Belinati, que se elegeu um ano antes do jornal circular. Morreu também com uma linha editorial crítica, que é o que discutimos nesta pesquisa, a partir da análise dos valores-notícia usados pelo jornal na cobertura de questões urbanas, como Plano Diretor, lei de zoneamento e questões ambientais, todas elas envolvendo o setor imobiliário e de construção civil. Para a definição de valor-notícia trabalhamos com autores Nelson Traquina (2004 e 2008), Mauro Wolf (2005), Gislene Silva, Marcos Paulo da Silva e Mario Luiz Fernandes (2013).

    O recorte escolhido, de 2013 a 2015, além de ser o período final de funcionamento do diário, teve esse tema entre as principais agendas do jornal. A pesquisa compreende 891 edições do jornal, das quais foram separadas 121 reportagens que tratam dessas questões. A partir dessas reportagens é possível afirmar que o JL enfrentou em sua pauta temas que são sensíveis para os já citados setor imobiliário e construção civil, que respondem por uma fatia importante do publicitário. Essa cobertura provocou tensões que levaram ao enfraquecimento financeiro do jornal e por fim, conforme demonstrado a partir de entrevistas feitas com profissionais tanto da redação quanto da área comercial do jornal, ao fechamento da empresa.

    Uma das questões que emergem desta pesquisa são as dificuldades para fazer, manter e financiar o jornalismo em cidades médias do interior do Brasil. Esse debate demanda novas pesquisas e reflexões sobre a busca de formas diferentes de financiamento que consigam garantir a independência editorial necessária para que o jornalismo mantenha a sua relevância e consiga se manter como espaço público e do debate sobre a vida comum. Em tempos em que a extrema-direita flerta com o totalitarismo, no Brasil e em outros lugares do mundo, o jornalismo ainda tem um papel civilizatório a cumprir, mas esse papel parece cada vez mais distante da lógica das grandes corporações de mídia. Por fim, esta pesquisa nos conduz a uma reflexão sobre os limites do jornalismo em seu formato liberal, praticado por empresas jornalísticas.

     

  • Palavras-chave
  • Jornalismo; valor-notícia; JL; mercado publicitário
  • Área Temática
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