A capacidade de digerir quitina é essencial para diversos animais tendo em vista que este carboidrato é um dos mais amplamente distribuídos pelas teias tróficas da maioria dos ecossistemas. A serpente Erythrolamprus viridis (Günther, 1862), conhecida localmente como Cobra-Verde, é endêmica do domínio Caatinga e possui hábito alimentar batracófago, isto é, tem sua dieta especializada em anfíbios anuros (Sapos, Rãs e Pererecas). Consequentemente, esta espécie ingere indiretamente grandes quantidades de material quitinoso consumidos por suas presas, fato que pode causar obstruções e lesões do seu trato gastro-intestinal se não forem eficientemente digeridas. Contudo, a extensão de ocorrência de enzimas quitinolíticas entre os répteis é pouco conhecida, sendo basicamente registrada para alguns crocodilianos e lagartos. Com base nisso, nesta pesquisa avaliamos a ocorrência de atividade quitinolítica em E. viridis, além de comparar sua eficiência de degradação de quitina com aquela de lagartos insetívoros. Para isso, preparamos extratos celulares do trato gastrointestinal da espécie-alvo, bem como do lagarto Tropidurus hispidus (Spix, 1825), por maceração mecânica dos tecidos em tampão acetato (pH 5,6; 0,1 M) após congelamento em nitrogênio líquido. Os extratos de cada indivíduo foram padronizados na concentração protéica de 2 mg/mL e, posteriormente, analisados em triplicatas quanto ao seu potencial quitinolítico em testes de açúcar redutor no reagente de Schales a 420 nm, após sua incubação em quitina coloidal, a fim de detectar resíduos de N-acetil-glucosamina e outros derivados da hidrólise da quitina. Os valores de absorbância observados nestes testes são negativamente relacionados à quantidade de açucares redutores na amostra, implicando que baixos valores refletem uma alta atividade quitinolítica. Ao todo quantificamos a atividade quitinásica em seis indivíduos de E. viridis e dois indivíduos de T. hispidus, estes últimos atribuídos como controle positivo. Todos os indivíduos testados apresentaram atividade quitinásica, tendo havido diferença entre as espécies testadas (Kruskal-Wallis – chi = 24,06; p < 0,01). A serpente E. viridis (média = -0,247 A) apresentou menor potencial quitinolítico quando comparada ao lagarto T. hispidus (média = -0,457 A) (Post-hoc Dunn Test - p < 0,01. Ambos os tratamentos diferiram do controle negativo (média = 0,558 A) (Post-hoc Dunn Test - p < 0,01 para todos os pares). Estes resultados demonstraram de forma inédita a capacidade da serpente E. viridis de digerir quitina. Além disso, conforme esperado, as evidências bioquímicas revelaram que o potencial quitinolítico desta serpente batracófaga é menor que de um lagarto insetívoro. Estes achados contribuem para o entendimento da fisiologia digestiva de répteis escamados (Squamata) de forma geral, bem como ampliam o conhecimento sobre os processos metabólicos que subsidiam o repertório comportamental alimentar de serpentes batracófagas.
Comissão Organizadora
Thaiseany de Freitas Rêgo
RUI SALES JUNIOR
Comissão Científica
RICARDO HENRIQUE DE LIMA LEITE
LUCIANA ANGELICA DA SILVA NUNES
FRANCISCO MARLON CARNEIRO FEIJO
Osvaldo Nogueira de Sousa Neto
Patrício de Alencar Silva
Reginaldo Gomes Nobre
Tania Luna Laura
Tamms Maria da Conceição Morais Campos
Trícia Caroline da Silva Santana Ramalho
Kátia Peres Gramacho
Daniela Faria Florencio
Rafael Oliveira Batista
walter martins rodrigues
Aline Lidiane Batista de Amorim
Lidianne Leal Rocha
Thaiseany de Freitas Rêgo
Ana Maria Bezerra Lucas