A meningoencefalite é um processo inflamatório que envolve o cérebro e as meninges produzido por organismos patogênicos ou toxinas que invadem o sistema nervoso central (SNC). A meningoencefalite bacteriana comumente relatada em caprinos jovens, é uma sequela neonatal associada a diversos fatores como um trauma local ou a falha no manejo do neonato. Os agentes bacterianos comumente envolvidos são Escherichia coli, Pasteurella multocida, Streptococcus spp. e Staphylococcus spp., invadindo o SNC pela via hematógena através dos monócitos. O tratamento é baseado em antibioticoterapia, uso de corticoides e complexos vitamínicos, e o prognóstico é reservado dependendo do tempo de evolução. O presente trabalho tem como objetivo relatar achados clínicos, laboratoriais e anatomopatológicos de um caprino diagnosticado com meningoencefalite.
Foi atendido no Hospital Veterinário da Universidade Metodista de São Paulo (HOVET-UMESP) um caprino macho, SRD, de 5 meses de idade, 7kg, apresentando anorexia, prostação, nistagmo, taquicardia, taquipneia, rigidez e membros associado a movimentos de pedalagem, opstótono, sialorreia e vocalização. O animal foi adquirido aos 2 meses de idade sendo alimentado desde então com leite bovino. O exame laboratorial revelou aumento do lactato sanguíneo venoso (5,5 mmol/dl) e leucocitose por monocitose. A terapia medicamentosa consistiu em fluidoterapia com Ringer com Lactato, glicose 5%, bircabonato de sódio 8,4%, Tiamina (10mg/kg, IM SID, 4 dias), Cianocobalamina (5ml/animal, IV, 4 dias), Dexametasona (1mg/kg, IV, SID), Oxitetraciclina (20 mg/kg, IM, SID, 3 dias). Diante da intensificação dos sintomas, piora clínica e resposta negativa às medidas terapêuticas instituídas, optou-se pela eutanásia do animal. A análise necroscópica identificou presença de matéria purulenta em regiões do sistema nervoso, sendo coletadas e armazenadas em formol a 10% para avaliação anatomopatológica. Microscopicamente foi evidenciado alterações sugestivas de meningoencefalite purulenta inespecífica. A análise PCR (Polymerase Chain Reaction) para detecção do DNA de Listeria monocytogenes resultou negativa e o exame de cultura bacteriana foi positivo para Escherichia coli.
O diagnóstico definitivo de meningoencefalite por E. coli foi realizado por associação da análise acurada dos dados obtidos pela anamnese, achados clínicos-patológicos e laboratoriais, necessários na detecção de agentes infecciosos que acometem o SNC de pequenos ruminantes neonatos.