Os Terços de Homens Pretos e Pardos foram organizações paramilitares cuja formação deu-se ao longo do século XVII e, embora fossem compostos por indivíduos à margem do tecido social daquele período histórico, conseguiram institucionalizar-se e ganhar certa notoriedade no continuum escravidão-liberdade. Essa representatividade adquirida forneceu meios para que eles mantivessem contato administrativo com órgãos coloniais da Coroa Portuguesa, sobretudo o Conselho Ultramarino, fator responsável para a construção documentação manuscrita que serve de corpus para essa pesquisa, a Coleção Documental dos Terços de Homens Pretos e Pardos (doravante CDTHPP), composta por 28 documentos manuscritos entre 1650 e 1793, por 15 homens, entre nascidos livres e forros. Na esteira da construção deste trabalho, a documentação passou por um processo de edição semidiplomática, conforme os critérios propostos por Castilho (2019), adaptados para atender às especificidades dos manuscritos, e, em seguida, uma minuciosa análise paleográfica, tendo por base Lose (2022), de modo a garantir a autenticidade da documentação e distinguir os autógrafos, manuscritos por escreventes dos Terços de Homens Pretos e Pardos, dos apógrafos, possivelmente escritos por integrantes brancos da administração portuguesa. Por conseguinte, apresentamos, também, os aspectos linguísticos dos documentos manuscritos, mormente os dados relacionados ao clítico lhe, pois, segundo Duarte (2016, p. 30), o Português Brasileiro apresenta “a completa ausência do clítico dativo lhe, para referência à terceira pessoa”, um dos frutos da reorganização do sistema pronominal do PB, causada pela inclusão do pronome de tratamento você em concorrência com o pronome tu, o que “provocou um rearranjo no paradigma pronominal e um efeito na morfologia flexional” (Kato, 2017), a partir de meados do século XIX. Logo, pretende-se demonstrar a análise da função acusativa e/ou dativa do clítico lhe nos documentos manuscritos pelos integrantes dos Terços de Homens Pretos e Pardos da Bahia e de Pernambuco. A investigação foi feita com base em Lucchesi (2009) e Lopes et al. (2018). Concluímos, por fim, que os documentos do CDTHPP não ofereceram margens de variação e uma possível indicações de mudanças para a formação de um Português Brasileiro à vista já nos séculos XVII e XVIII, visto o clítico assumir apenas a função dativa na documentação. Contudo, tratam-se de documentos raríssimos manuscritos por pessoas negras, o que justifica a importância da pesquisa para os estudos sobre a formação do Português Brasileiro.
Com o propósito de congregar estudantes e pesquisadores da área, surgiu, em 2011, o Encontro de Sociolinguística. Com esse encontro, esperavam-se fomentar métodos de pesquisa, divulgar trabalhos realizados ou em andamento, estimular a pesquisa na comunidade acadêmica e na sociedade. De 2011 para cá, o Encontro de Sociolinguística já foi realizado em Salvador-BA, na Universidade do Estado da Bahia (UNEB) e na Universidade Federal da Bahia (UFBA); em Feira de Santana-BA, na Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS); em Aracaju-SE, na Universidade Federal de Sergipe (UFS); e, agora, em 2024, o Encontro Nordestino de Sociolinguística foi realizado, pela primeira vez, no sudoeste baiano, em Vitória da Conquista-BA, e sediado na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB.
Com a realização do Programa de Pós-Graduação em Linguística – PPGLin/UESB e do Grupo de Pesquisa em Linguística Histórica e em (Sócio)Funcionalismo – Grupo Janus/ LAPESF/PPGLin; do Programa de Pós-Graduação em Estudo de Linguagens/ Universidade do Estado da Bahia (UNEB), do Programa de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos/ Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), do Instituto Federal da Bahia (IFBA) e da Universidade Federal de Sergipe (UFS), a XII Edição do evento teve como tema SociolinguísticaS.
Com esse tema, propusemo-nos a trazer, para o sertão baiano, discussões sobre a essência e as nuanças da Sociolinguística, corrente linguística que inaugura a correlação entre a estrutura gramatical e a estrutura social; corrente linguística que apresenta ao mundo a heterogeneidade linguística como sistematizável; e uma corrente linguística que não pode ser considerada como uma única. Assim, no período de 23 a 25 de outubro de 2024, de forma presencial, teve palco, na UESB, discussões sobre as SociolinguísticaS: Sociolinguística Variacionista, a Sociolinguística Histórica, a Sociofonética, o Sociofuncionalismo, a Sociocognição, a Geossociolinguística, a Sociolinguística de Contato e a Sociolinguística Educacional.
Valéria Viana Sousa (UESB)
Membro da Comissão Organizadora
André Pedro da Silva (UFBA)
Cristiane dos Santos Namiuti (UESB)
Cristina dos Santos Carvalho (UNEB)
Gessilene Silveira Kanthack (UESC)
Gilce de Souza Almeida (UNEB)
Huda da Silva Santiago (UEFS)
Maria Aparecida de Souza Guimarães (UNEB)
Neila Maria Oliveira Santana (UNEB)
Norma da Silva Lopes (UNEB)
Pedro Daniel dos Santos Souza (UNEB)
Raquel Meister Ko Freitag (UFS)
Silvana Silva de Farias Araujo (UEFS)
Valéria Viana Sousa (UESB)
Valter de Carvalho Dias (IFBA)
Cristina dos Santos Carvalho (UNEB)
Norma da Silva Lopes (UNEB)
Pedro Daniel dos Santos Souza (UNEB)
Raquel Meister Ko Freitag (UFS)
Silvana Silva de Farias Araujo (UEFS)
Valéria Viana Sousa (UESB)
Valter de Carvalho Dias (IFBA)
I ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Variação - História - Mudança
01 de dezembro de 2011
Universidade do Estado da Bahia (Salvador)
II ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Estudos da Variação, da Mudança e da Sócio-História do Português Brasileiro; Sociofuncionalismo e Etnografia da Comunicação
28 e 29 de novembro de 2012
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)
III ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
A pesquisa em Salvador
03 e 04 de outubro de 2013
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)
IV ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Diferentes olhares sobre o português brasileiro
15 e 16 de setembro de 2014
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)
V ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Diálogos entre Brasil e África
09 e 10 de novembro de 2015
Universidade Estadual de Feira de Santana (Feira de Santana-BA)
VI ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
O português do Nordeste: (para além das) fronteiras linguísticas
29 e 30 de setembro de 2016
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)
VII ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Redes e contatos
28 a 30 de setembro de 2017
Universidade Federal de Sergipe (São Cristovão-SE)
VIII ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Variação e ensino: unidade e diversidade
20 e 21 de julho de 2018
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)
IX ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Sociolinguística: quebrando tabus e inovando na escola
01 e 02 de agosto de 2019
Universidade Federal da Bahia (Salvador-BA)
Anais
X ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Desafios do isolamento social para a Sociolinguística e interfaces
De 01 a 04 de dezembro de 2021
Edição online
Anais
XI ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
A Sociolinguística no Nordeste
01 a 03 de dezembro de 2021
Online - https://doity.com.br/xiencontrodesociolinguistica
Anais