DA HISTÓRIA SOCIAL PARA A LINGUÍSTICA: NOTAS SOBRE ASPECTOS SÓCIO-HISTÓRICOS DE JEQUIÉ E SUAS IMPLICAÇÕES PARA UM ESTUDO LINGUÍSTICO SOBRE O PORTUGUÊS BRASILEIRO NO SERTÃO DA RESSACA

• Autor
• Hellena Gabriela Reis Cerqueira
• Co-autores
• Lara da Silva Cardoso
• Resumo

• A complexidade da língua exige uma pluralidade teórica, que considere diferentes perspectivas teóricas e metodológicas (Faraco, 2005). De modo geral, segundo Weedwood (2002), os estudos linguísticos podem ser classificados em duas grandes correntes: a análise dos aspectos internos da língua, que busca compreender a organização hierárquica de seus elementos, e a análise dos aspectos externos, que busca entender as inter-relações entre língua, sociedade e história. Com o avanço das pesquisas linguísticas e históricas sobre o português brasileiro, tem se tornado cada vez mais evidente a necessidade de estudos que não apenas integrem as dimensões social e histórica da língua, mas também orientem as investigações sobre as variedades linguísticas (Callou; Lobo, 2020). Nesse contexto, o objetivo deste trabalho é apresentar aspectos sociais e históricos da cidade de Jequié, discutindo como esses fatores podem orientar um estudo linguístico da variedade do português brasileiro falada na região, com foco tanto em seus elementos internos quanto externos. Este estudo insere-se no campo da história social linguística do Brasil (Mattos e Silva, 2004) e na Sociolinguística Histórica (Hernandez Campoy; Conde-Silvestre, 2012), adotando uma abordagem que parte do presente em direção ao passado, conforme proposta de Faraco (2005). Baseando-se em estudos sócio-históricos do português brasileiro, este trabalho selecionou para análise os seguintes aspectos da cidade de Jequié: demografia, composição étnica e escolarização. Os dados foram extraídos do Censo Demográfico de 2022, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e posteriormente comparados à realidade social e linguística nacional, com o objetivo de identificar particularidades regionais. Os resultados revelam, entre outros fatores, uma alta taxa de escolarização infantil, uma significativa disparidade na distribuição de renda, uma predominância de indivíduos pardos na composição étnica e a presença de uma comunidade quilombola remanescente. Esses dados sugerem que a formação do português brasileiro na região de Jequié foi marcada por um intenso processo de miscigenação e pela resistência das populações africanas, fatores que possivelmente influenciaram a emergência de particularidades na variedade linguística local, que deverão ser exploradas em futuras pesquisas. Este estudo não apenas contribui para o aprofundamento dos estudos linguísticos sobre o português falado em Jequié, mas também destaca a importância de um embasamento social e histórico sólido para a realização de pesquisas linguísticas, reforçando a inter-relação entre língua e sociedade.

• Palavras-chave
• Sócio-História. Jequié. Português Brasileiro.
• Modalidade
• Simpósios Auto-organizados
• Área Temática
• ST01 - USOS E CONTEXTOS DA LÍNGUA PORTUGUESA