DESIGNAÇÕES PARA ‘CAOLHO’ E ‘VESGO’ NO INTERIOR DA REGIÃO NORDESTE: ANÁLISE GEOSSOCIOLINGUÍSTICA DE DADOS DO PROJETO ALIB

• Autor
• Celineide Camões dos Santos
• Co-autores
• Josane Moreira de Oliveira
• Resumo

• Pretende-se neste trabalho apresentar resultados parciais da pesquisa de doutorado, cujo objetivo principal é investigar as denominações para doenças oculares na Região Nordeste. Para a constituição do corpus, utilizaram-se inquéritos do Projeto Atlas Linguístico do Brasil (ALiB) e foram analisados dados de seis perguntas do Questionário Semântico-Lexical (QSL): 091 – cego de um olho; 092 – vesgo; 093 – míope; 094 – terçol/viúva; 095 – conjuntivite/dor d’olhos; 096 – catarata. Realizou-se um recorte do estudo e serão apresentados os resultados obtidos para as seguintes questões sob análise: 91 – Como se chama a pessoa que só enxerga com um olho?; 92 – Como se chama a pessoa que tem os olhos voltados para direções diferentes? Analisaram-se as respostas fornecidas por informantes de 43 localidades do interior distribuídas em seis estados do Nordeste (Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco). O estudo orientou-se por fundamentos teóricos e metodológicos da Sociolinguística (Weinreich; Labov; Herzog, 2006 [1968]; Labov, 2008 [1972]), da Dialetologia (Ferreira; Cardoso, 1994; Cardoso, 2010), da Lexicologia (Biderman, 1998; Isquerdo, 2009) e da Geolinguística Pluridimensional (Radtke; Thun, 1996; Thun, 2000). No que tange aos procedimentos metodológicos, utilizou-se a metodologia orientada pelo Projeto ALiB para levantamento, descrição e análise de dados. Pelo viés sociolinguístico, controlaram-se as variáveis sociais ‘sexo’, ‘faixa etária’ e ‘localidade’. Documentaram-se 11 denominações para a questão 91, sendo as formas mais produtivas: cego (a), cego de um olho, deficiente/ deficiente visual, caolho(a), olho perdido/ vista perdida. Observaram-se que os itens lexicais cego (a) e cego de um olho foram os mais frequentes, alcançando índices percentuais de 38,3% e 30,1% dos casos, respectivamente. Por sua vez, para a questão 92, registram-se 19 formas designativas, das quais obtiveram maior produtividade as seguintes lexias: zanolho, vesgo, zarolho, olho trocado e desvio no olho. Verificou-se que a forma zanolho foi responsável por 51,3% dos dados, seguida da variante lexical vesgo, com percentual de ocorrências de 12,9%. Os resultados apontaram para a existência de tabus linguísticos, a exemplo da predominância do uso da lexia cego (a) ao invés de caolho, já que os informantes utilizaram uma denominação genérica desconsiderando a sua carga semântica. Constatou-se a presença de expressões metafóricas, como manco do olho e pirata, usadas para denominar a pessoa caolha, e instalação trocada, para se referir a vesgo. Este trabalho traz contribuições para os estudos da variação lexical no português brasileiro e promove a divulgação dos dados do Projeto ALiB.

• Palavras-chave
• Doenças oculares. Variação lexical. Projeto ALiB.
• Modalidade
• Simpósios Auto-organizados
• Área Temática
• ST09 - SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA E SUAS INTERFACES NA DESCRIÇÃO DO PORTUGUÊS BRASILEIRO