SINTAXE E DIATOPIA: NEGATIVAS PÓS-VERBAIS NO MATO GROSSO DO SUL SEGUNDO O ALIB

• Autor
• Rerisson Cavalcante
• Resumo

• O português brasileiro (PB) possui três estratégias básicas de negação sentencial: a negativa pré-verbal (NEG1), como em “não quero pizza”, com o marcador antecedendo todo o SV; a negativa dupla (NEG2), como em “não quero pizza não”, com um marcador antes e outro após o SV; e a negativa final (NEG3), como em “quero pizza não”, com um único marcador após o SV. As estruturas NEG2 e NEG3, aqui denominadas negativas pós-verbais, são inovadoras na história do PB e possuem distribuição sintática mais restrita do que NEG1: não ocorrem em interrogativas QU nem subordinadas, com a exceção de NEG2 em completivas (cf. Cavalcante, 2007). Além disso, costumam ser consideradas como variantes especificamente ou majoritariamente nordestinas (cf. Roncarati, 1996; Goldnagel, 2013). O presente trabalho faz parte de um projeto mais amplo que visa mapear a presença dessas negativas nos diversos dialetos do PB, com especial atenção para as regiões sul, centro-oeste e norte, onde há menos estudos sobre o fenômeno. Desta forma, neste trabalho, analiso, a partir de entrevistas do banco de dados do Atlas Linguístico do Brasil (ALiB), a distribuição espacial e linguística das negativas sentenciais pós-verbais em dialetos do Mato Grosso do Sul (cf. Souza, 2020, 2021; Reis et al, 2023), em comparação com outras partes do país, especialmente, Paraná e Bahia. Analisamos dados de 28 inquéritos linguísticos de seis localidades do estado: Coxim, Corumbá, Paranaíba, Campo Grande (a capital), Nioaque e Ponta Porã. São quatro informantes por localidades, distribuídos por sexo e em duas faixas etárias (18 a 30 anos; 50 a 65 anos) e de escolaridade fundamental. Além destes, na capital do estado, são acrescentados mais quatro informantes de nível superior, igualmente distribuídos por sexo e idade. O objetivo é identificar em que dialetos essas negativas pós-verbais NEG2 e NEG3 estão presentes e ausentes; e em que tipos sentenciais essas estruturas aparecem. Testamos a hipótese de que tais negativas seriam menos produtivas em dialetos mais afastados do Nordeste, onde tais estruturas podem ter se originado. Os resultados são representados cartograficamente. Nos dialetos sul-mato-grossenses, as negativas pós-verbais ocorrem em mais localidades/informantes do que nos dialetos paranaenses (cf. Cavalcante, 2019), sugerindo que estão mais bem difundidas no centro-oeste do que no sul. Do ponto de vista sintático, entretanto, os dialetos sul-mato-grossenses, paranaenses e baianos comportam-se de modo similar, com a exceção da ausência de dados de NEG3 em interrogativas polares e em imperativas nos dois primeiros casos.

• Palavras-chave
• Negação. Atlas Linguístico do Brasil. Sintaxe.
• Modalidade
• Simpósios Auto-organizados
• Área Temática
• ST07 - SINTAXE E VARIAÇÃO ESPACIAL