A FLEXÃO DE GÊNERO NO PORTUGUÊS GUARANI-MBYÁ: UMA CONTRIBUIÇÃO AOS ESTUDOS DO CONTATO E DA SOCIOLINGUÍSTICA

• Autor
• Julia Lima Costa
• Resumo

• A história do português falado no Brasil se deu a partir do contato ocorrido entre diversos povos e suas respectivas línguas, o que tem inspirado estudos de diferentes correntes teóricas que procuram compreender sua formação e desenvolvimento (Basso, 2014). Nesse sentido, este trabalho pretende contribuir com esses estudos, apresentando características do português falado por um povo indígena, os Guarani-Mbyá, a fim de compreender o desenvolvimento dessa variedade dialetal em particular, considerando-se as situações de contato linguístico vivenciadas por esse povo nas regiões Sul e Sudeste do país (Mello; Altenhofen; Tommaso, 2011). Define-se como objetivo identificar a flexão de gênero no Português falado pelos Guarani-Mbyá, visando compreender as características do português brasileiro falado em situações de contato. Além disso, pretende-se desconstruir as formas de preconceito linguístico relacionadas ao português indígena, legitimando essa variedade (Bagno, 2015). Para isso, a metodologia proposta para a elaboração da versão final do trabalho consiste na realização de entrevistas semiestruturadas, em língua portuguesa, com falantes bilíngues Guarani-Mbyá/Português de duas regiões do país, Sul e Sudeste, aos quais será solicitada, também, a narração de uma ou mais histórias indígenas, a fim de se obter a forma vernacular, da maneira menos monitorada possível. Nesse sentido, os dados serão interpretados à luz do contato linguístico, assumindo-se, ainda, aspectos da Sociolinguística Variacionista (Weinreich; Labov; Herzog, 2006), (Labov, 2008) para a compreensão da relação língua e sociedade. Como estudo piloto, que contribuirá com o preparo do protocolo da investigação e a avaliação da consistência do instrumento de pesquisa, neste trabalho, foi desenvolvida uma análise preliminar dos dados de fala de um falante bilíngue Guarani-Mbyá/Português, o que confirmou a hipótese de que essa variedade do português, resultado do contato linguístico, apresenta marcas e transferências de aspectos da língua indígena, como a não flexão de gênero no sintagma nominal (Ivo, 2021), processo, algumas vezes, atribuído exclusivamente ao contato ocorrido entre a língua portuguesa e as línguas africanas. Além das contribuições com os estudos dedicados à formação do português brasileiro, essa pesquisa se justifica, ainda, por legitimar as variedades do português falado pelos povos indígenas, como segunda língua, portanto, com a inclusão de mecanismos de suas línguas maternas, o que contribuirá para a desconstrução de diferentes formas de preconceito linguístico.

• Palavras-chave
• Português Indígena. Contato linguístico. Sociolinguística.
• Modalidade
• Simpósios Auto-organizados
• Área Temática
• ST04 - ESTUDOS DE SOCIOLINGUÍSTICA DE CONTATO