“A GENTE VAI E NÓS VAMOS”: MARCA MORFÊMICA E SALIÊNCIA FÔNICA NO USO VARIÁVEL DA PRIMEIRA PESSOA DO PLURAL EM ILHÉUS/BA

• Autor
• Leyla Santos Monteiro
• Co-autores
• Andréia Silva Araujo
• Resumo

• Para expressar a primeira pessoa do plural (1ªPP), os falantes do português brasileiro dispõem da forma pronominal canônica nós e da forma a gente. No entanto, embora o uso de uma ou de outra não apresente estigmatização com base na distribuição sociodemográfica, o encaixamento dessa variável linguística na estrutura da língua tem revelado implicações nos padrões de concordância verbal que são alvos de julgamentos sociais. Tais reverberações influenciam no comportamento linguístico do falante frente às variantes da 1ªPP, uma vez que elas são usadas com formas verbais na 1ªPP ou na terceira pessoa do singular (3ªPS), e, além disso, seu uso pode ser impulsionado pelo nível de contraste entre os verbos de 1ªPP e 3ªPS. Com o objetivo de identificar os padrões de usos da 1ªPP em relação aos fatores linguísticos marca morfêmica e saliência fônica, analisamos o falar ilheense a partir de uma amostra composta por 24 entrevistas sociolinguísticas resultantes das ações do projeto de pesquisa institucional “Mudança linguística no paradigma pronominal do português” (CEP/UESC – CAAE 23882619.0.0000.5526). Os dados foram submetidos a tratamento estatístico na plataforma R, em interface com o RStudio (R CORE TEAM, 2021). O controle do condicionador linguístico marca morfêmica mostrou que, no corpus da comunidade de fala analisada, a forma nós foi preferencialmente usada com o morfema -mos (35/41=85%), ao passo que a forma a gente foi favorecida com o morfema zero (901/905=99,6%). Considerando o fator saliência fônica, os menores níveis de diferenciação fônica favoreceram a aplicação da variante a gente (557/575 – 97%), enquanto a variante nós obteve maior percentual de uso em contextos de verbos que apresentam maior contraste fonológico (21/371 – 6%). Os resultados evidenciaram que há motivações internas à língua que impactam esse fenômeno morfossintático variável. Ademais, esses padrões de uso estabelecem imbricações no modo como variáveis linguísticas são percebidas e avaliadas socialmente, sendo necessário, assim, estudos que coadunem dados sobre como os membros de uma comunidade linguística falam com os significados sociais que estão atrelados a formas alternativas da língua. 

• Palavras-chave
• Variação pronominal. Primeira pessoa. Marca morfêmica.
• Modalidade
• Simpósios Auto-organizados
• Área Temática
• ST09 - SOCIOLINGUÍSTICA VARIACIONISTA E SUAS INTERFACES NA DESCRIÇÃO DO PORTUGUÊS BRASILEIRO