VERBOS MODAIS EM QUATRO COMUNIDADES RURAIS AFROBRASILEIRAS

• Autor
• Ana Beatriz Fonseca Santos
• Co-autores
• Rerisson Cavalcante de Araújo
• Resumo

• Este trabalho descreve o sistema de auxiliares modais de quatro comunidades rurais afrobrasileiras da Bahia, a saber, Sapé (município de Valença), Barra e Bananal (Rio de Contas), Cinzento (Planalto) e Helvécia (Nova Viçosa), a partir dos corpora do Acervo de Fala Vernácula do Português Afro-Brasileiro do Estado da Bahia, do Projeto Vertentes do Português Popular do Estado da Bahia (Luchesi et al, 2009). A modalidade é uma categoria gramatical que codifica noções de possibilidade e de necessidade (a força modal), relativizadas a parâmetros definidos pelo contexto discursivo (Kratzer, 1977, 1981, 1991), que geram tipos modais como: (i) modalidade epistêmica, relativa aos conhecimentos do falantes; (ii) deôntica, relativa a condicionamentos externos aos participantes do evento, como sistemas de autoridade; (iii) dinâmica, relativa a condicionamentos internos aos participantes e situações, capacidades, habilidades e tendências. No português brasileiro, poder e dar para codificam a possibilidade modal; e dever e ter que codificam a necessidade modal (cf. Gonçalves; Cavalcante, 2021; Pessotto, 2009; Lunguinho, 2010; Scarduelli, 2011). Entretanto, embora alguns auxiliares modais, nas línguas, apareçam em qualquer tipo modal, também é comum que alguns auxiliares desenvolvam restrições contextuais, especialmente considerando que, no processo de gramaticalização, um novo modal tende a surgir no contexto dinâmico e depois se expandir para o deôntico e, por final, para o epistêmico (Haan, 2006; Traugott, 2006). Nesta pesquisa, descrevemos o quadro dos verbos modais das quatro comunidades em função do tipo modal expresso, assumindo também a hipótese de possível especialização da forma presente de dever para os contextos epistêmicos e das formas do pretérito imperfeito (devia, deveria) para os contextos não-epistêmicos, especialmente, deônticos. Os resultados, expressos cartograficamente, de acordo com a metodologia geolinguística (Mota; Cardoso, 2013), apontam que, no contexto epistêmico, apenas poder e dever (no presente) são produtivos, sem diferenças entre as comunidades. Por outro lado, no contexto deôntico, dever (presente) cede lugar a ter que em todas as comunidades; e dever (pretérito) ocorre em Sapé, Cinzento e Helvécia, mas não em Rio de Contas, ainda assim com frequência muito menor do que ter que; já dar para ocorre como possibilidade deôntica apenas em Rio de Contas. Quanto ao contexto dinâmico, poder, dar para e ter que ocorrem em todas as comunidades, com dever (presente) aparecendo apenas em Cinzento. Isso mostra como dar para, nos corpora, ainda está restrito a usos dinâmicos; e confirma que dever perdeu espaço para ter que nos contextos não-epistêmicos.

• Palavras-chave
• Verbos modais. Variação espacial. Português afrobrasileiro.
• Modalidade
• Simpósios Auto-organizados
• Área Temática
• ST07 - SINTAXE E VARIAÇÃO ESPACIAL