Este estudo aborda a linguagem como instrumento de resistência e organização entre mulheres encarceradas no Brasil, como ocorre na dinâmica apresentada pela série ficcional Orange is the New Black (2013-2019), estreada na Netflix, inspirada no livro Orange is the New Black: My Year in a Women's Prison de Piper Kerman (2010). A produção ficcional contextualiza a realidade de mulheres encarceradas, na qual a maioria das detentas foi condenada por tráfico de drogas, refletindo desigualdades sociais e econômicas, realidade semelhante ao demonstrado pela pesquisa realizada pela Defensoria Pública do Estado (Bahia, 2023) nos ambientes prisionais baianos. A partir disso, busca-se compreender como a linguagem, especialmente o uso de gírias, desempenha um papel crucial na criação de solidariedade, divisão hierárquica e preservação da identidade dentro do ambiente prisional. O objetivo da pesquisa foi analisar como as gírias utilizadas entre as mulheres encarceradas no Conjunto Penal Advogado Nilton Gonçalves, em Vitória da Conquista, Bahia, refletem suas identidades e condições sociais. Diante disso, o estudo foca na resistência das detentas frente à despersonalização e à desumanização, utilizando a linguagem como uma forma de autoproteção e resistência contra a opressão do sistema prisional. Para isso, foi elaborada uma investigação qualitativa, com a realização e análise de entrevistas sociolinguísticas semiestruturadas e livres e observação participante. A pesquisa tem como base a teoria da variação linguística de Labov (2008 [1972]) e os estudos de identidade e estilo de Eckert (2012) e Goffman (1986), além da perspectiva das metáforas culturais, como discutido por Lakoff (1980) e Preti (1984) para compreensão da formação dos vocábulos gírios pelas presas. Os resultados revelaram que, assim como abordado na série Orange is the New Black, as internas, em sua maioria, foram presas em razão de crimes previstos na Lei de Tráfico de Drogas. E foi demonstrado a essencialidade da linguagem para formar laços de solidariedade ou para se protegerem, bem como para ter o controle sobre quem fala o que é falado e como se comunica. Dessa forma, as gírias atuam como códigos de sobrevivência e como mecanismos de divisão hierárquica, constituindo-se como um elemento de resistência, mas também de opressão, sendo utilizada tanto para fortalecer os laços dentro de facções quanto para impor autoridade sobre as demais. Assim, tal como na ficção, a realidade dessas mulheres é marcada pela luta por identidade e sobrevivência, em um espaço onde a linguagem desempenha um papel central na manutenção do poder e da resistência.
Com o propósito de congregar estudantes e pesquisadores da área, surgiu, em 2011, o Encontro de Sociolinguística. Com esse encontro, esperavam-se fomentar métodos de pesquisa, divulgar trabalhos realizados ou em andamento, estimular a pesquisa na comunidade acadêmica e na sociedade. De 2011 para cá, o Encontro de Sociolinguística já foi realizado em Salvador-BA, na Universidade do Estado da Bahia (UNEB) e na Universidade Federal da Bahia (UFBA); em Feira de Santana-BA, na Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS); em Aracaju-SE, na Universidade Federal de Sergipe (UFS); e, agora, em 2024, o Encontro Nordestino de Sociolinguística foi realizado, pela primeira vez, no sudoeste baiano, em Vitória da Conquista-BA, e sediado na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB.
Com a realização do Programa de Pós-Graduação em Linguística – PPGLin/UESB e do Grupo de Pesquisa em Linguística Histórica e em (Sócio)Funcionalismo – Grupo Janus/ LAPESF/PPGLin; do Programa de Pós-Graduação em Estudo de Linguagens/ Universidade do Estado da Bahia (UNEB), do Programa de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos/ Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), do Instituto Federal da Bahia (IFBA) e da Universidade Federal de Sergipe (UFS), a XII Edição do evento teve como tema SociolinguísticaS.
Com esse tema, propusemo-nos a trazer, para o sertão baiano, discussões sobre a essência e as nuanças da Sociolinguística, corrente linguística que inaugura a correlação entre a estrutura gramatical e a estrutura social; corrente linguística que apresenta ao mundo a heterogeneidade linguística como sistematizável; e uma corrente linguística que não pode ser considerada como uma única. Assim, no período de 23 a 25 de outubro de 2024, de forma presencial, teve palco, na UESB, discussões sobre as SociolinguísticaS: Sociolinguística Variacionista, a Sociolinguística Histórica, a Sociofonética, o Sociofuncionalismo, a Sociocognição, a Geossociolinguística, a Sociolinguística de Contato e a Sociolinguística Educacional.
Valéria Viana Sousa (UESB)
Membro da Comissão Organizadora
André Pedro da Silva (UFBA)
Cristiane dos Santos Namiuti (UESB)
Cristina dos Santos Carvalho (UNEB)
Gessilene Silveira Kanthack (UESC)
Gilce de Souza Almeida (UNEB)
Huda da Silva Santiago (UEFS)
Maria Aparecida de Souza Guimarães (UNEB)
Neila Maria Oliveira Santana (UNEB)
Norma da Silva Lopes (UNEB)
Pedro Daniel dos Santos Souza (UNEB)
Raquel Meister Ko Freitag (UFS)
Silvana Silva de Farias Araujo (UEFS)
Valéria Viana Sousa (UESB)
Valter de Carvalho Dias (IFBA)
Cristina dos Santos Carvalho (UNEB)
Norma da Silva Lopes (UNEB)
Pedro Daniel dos Santos Souza (UNEB)
Raquel Meister Ko Freitag (UFS)
Silvana Silva de Farias Araujo (UEFS)
Valéria Viana Sousa (UESB)
Valter de Carvalho Dias (IFBA)
I ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Variação - História - Mudança
01 de dezembro de 2011
Universidade do Estado da Bahia (Salvador)
II ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Estudos da Variação, da Mudança e da Sócio-História do Português Brasileiro; Sociofuncionalismo e Etnografia da Comunicação
28 e 29 de novembro de 2012
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)
III ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
A pesquisa em Salvador
03 e 04 de outubro de 2013
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)
IV ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Diferentes olhares sobre o português brasileiro
15 e 16 de setembro de 2014
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)
V ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Diálogos entre Brasil e África
09 e 10 de novembro de 2015
Universidade Estadual de Feira de Santana (Feira de Santana-BA)
VI ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
O português do Nordeste: (para além das) fronteiras linguísticas
29 e 30 de setembro de 2016
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)
VII ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Redes e contatos
28 a 30 de setembro de 2017
Universidade Federal de Sergipe (São Cristovão-SE)
VIII ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Variação e ensino: unidade e diversidade
20 e 21 de julho de 2018
Universidade do Estado da Bahia (Salvador-BA)
IX ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Sociolinguística: quebrando tabus e inovando na escola
01 e 02 de agosto de 2019
Universidade Federal da Bahia (Salvador-BA)
Anais
X ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
Desafios do isolamento social para a Sociolinguística e interfaces
De 01 a 04 de dezembro de 2021
Edição online
Anais
XI ENCONTRO DE SOCIOLINGUÍSTICA
A Sociolinguística no Nordeste
01 a 03 de dezembro de 2021
Online - https://doity.com.br/xiencontrodesociolinguistica
Anais