Introdução: A educação alimentar e nutricional (EAN) é uma estratégia transdisciplinar, intersetorial e multiprofissional que visa promover hábitos alimentares saudáveis, prevenir e cuidar de doenças relacionadas à alimentação e nutrição, e desenvolver a autonomia e a participação dos indivíduos e das comunidades nas decisões sobre sua alimentação. A EAN está inserida nas políticas públicas de alimentação e nutrição e de promoção da saúde, e se articula com os princípios e as diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS). A atenção primária à saúde (APS) é um cenário privilegiado para a realização de ações de EAN, pois possibilita o acompanhamento longitudinal, a integralidade, a humanização e a territorialização do cuidado. Objetivo: Identificar e analisar as estratégias de EAN desenvolvidas na APS com indivíduos adultos no Brasil. Metodologia: Foi realizada uma busca nas bases de dados PubMed, Scielo e Web of Science. Foram aplicados os critérios de inclusão: artigos originais, publicados entre 2013 e 2023, que descrevessem intervenções de EAN na APS com indivíduos adultos no Brasil. Foram excluídos: artigos de revisão, relatos de experiência, teses, dissertações, monografias, capítulos de livros, resumos de congressos, artigos que não abordassem EAN ou APS, artigos que não incluíssem indivíduos adultos como público-alvo, e artigos que não estivessem disponíveis na íntegra ou em português. A seleção dos artigos foi baseada no checklist PRISMA, seguindo as etapas de identificação, triagem, elegibilidade e inclusão. Os artigos selecionados foram analisados quanto aos aspectos metodológicos, às características das intervenções, aos resultados e às limitações. Resultados: Foram encontrados 10 estudos. As intervenções de EAN foram realizadas por equipes multiprofissionais, envolvendo principalmente nutricionistas, enfermeiros e agentes comunitários de saúde. As estratégias de EAN mais utilizadas foram: grupos operativos, oficinas culinárias, hortas comunitárias, visitas domiciliares e rodas de conversa. Resultados: Foram avaliados principalmente por indicadores biométricos, como peso, índice de massa corporal, circunferência da cintura, pressão arterial e glicemia. Alguns artigos também avaliaram aspectos qualitativos, como percepção, satisfação, empoderamento, mudança de comportamento, qualidade de vida e bem-estar dos participantes. Os principais benefícios das intervenções foram: melhoria do estado nutricional, redução do risco de doenças crônicas, aumento do consumo de frutas e verduras, diminuição do consumo de alimentos ultraprocessados, maior conhecimento sobre alimentação e nutrição, maior autonomia e participação nas decisões sobre a alimentação, e maior integração entre os profissionais de saúde e a comunidade. As principais limitações foram: baixa adesão e evasão dos participantes, dificuldade de acompanhamento longitudinal, falta de padronização e de descrição das intervenções, e escassez de estudos qualitativos e de avaliação de impacto. Conclusão: As intervenções de EAN na APS com indivíduos adultos no Brasil apresentaram resultados positivos para a promoção da saúde, mas ainda há necessidade de aprimorar as bases teórico-metodológicas, ampliar o uso de metodologias ativas e problematizadoras, e fortalecer a avaliação qualitativa e de impacto das intervenções. A EAN na APS é uma estratégia potente para o enfrentamento dos desafios alimentares e nutricionais da atualidade, e deve ser valorizada e incentivada como uma prática integrada e intersetorial.
Comissão Organizadora
IGOR COSTA SANTOS
Comissão Científica