A mulher carrega consigo a ideia de direito à liberdade e à criação, de um direito natural que pertence a todos. No entanto, a ela foi negado esse direito no decorrer da sociedade androcêntrica marcada pela divisão de classes trabalhistas e sexuais (BOURDIEU, 2017), que a renegou e lhe atribuiu à categoria de inferior diante da figura da virilidade masculina. Não obstante, apesar dessa conjuntura social que foi criada para ela, na marginalização falocêntrica, muitas delas se manifestaram e hoje, há muitos estudos feministas nos quais, dedicam-se ao reconhecimento da diferença por meio de preceitos de individualização que consideram a política do lugar e os conhecimentos situados de aspectos culturais específicos das mulheres, responsáveis pela formação da condição ontológica do exercício da liberdade feminina, agregada ao que Foucault (2006) chamou de problema de subjetividade, o qual resultaria no cuidado de si e na estética da existência como uma prática de resistência. Diante disso, esse artigo pretende discutir essas práticas de resistências feministas e as que são ainda silenciadas presentes na sociedade, a partir dos discursos representativos de duas personagens de origem indígena na Literatura de Expressão Amazônica, criadas pelo escritor manauara Milton Hatoum. E, para isso, para discorrer sobre as questões de resistências em que a mulher luta por seus direitos de expressão e faz com que a “afirmação deste direito significa que os indivíduos implicados sentem-se participantes das iniciativas que estimulam a sociedade a se transformar, criando nela desequilíbrios sempre maiores.” (TOURAINE, 2007, p. 35), partirá das ações da índia Dinaura, do livro Órfãos do Eldorado (2015), pois ela representa a opção metodológica feminista “que privilegia o cotidiano e a subjetividade ancorada nas abordagens teóricas que reforçam a necessidade da reflexão hermenêutica crítica [...] distante de nossa vida, [...] com capacidade de nos comunicar suas falências e limites.” (OLIVEIRA, 2008, p. 236). Além de Dinaura, ainda em Hatoum, há Domingas, personagem do romance Dois Irmãos (2000), que dialoga com as falas das mulheres inessenciais ao sujeito essencializado no homem (BEAUVOIR, 2009), por Domingas apresentar em seus discursos, momentos em que os espaços de liberdade não são valorizados, como também não são incentivados, comparando-se aos traços de silenciamentos que foram impostos às mulheres no percurso da História.