O presente trabalho pretende abordar as ideologias que podem ser encontradas nos usos das palavras escritas por poetas do período imperial romano dos séculos I e II d. C. em suas sátiras. Através das literaturas latinas, obras dos poetas Marcial, em Epigramas, e Petrônio, em Satiricon, poderemos perceber o contexto social em que as mulheres da elite romana estavam circundadas. As utilizações das palavras, oriundas por um público masculino – os poetas aristocráticos –, seguindo uma perspectiva do filósofo russo Mikhail Bakhtin, abrangem práticas ideológicas para difundir certos ditames sociais à mulher romana da elite. Ditames aceitáveis, como, por exemplo, a fidelidade para com o esposo, sendo, portanto, a mulher apontada como honrada. Contudo, caso as mulheres romanas casadas da elite, também chamadas de matronas, não seguissem as regras postuladas por este público aristocrático e masculino, como, por exemplo, o acometimento de adultério(s), as mesmas seriam julgadas através de palavras como infame, ou seja, uma mulher considerada como desonrada. Essa será uma tentativa de manter, através das palavras, um controle sobre o agir deste grupo feminino. No entanto, poderemos pensar que essas práticas de buscar relações fora do lar e a não obediência ao marido são meios de confrontar tais mecanismos discursivos e ideológicos dessa aristocracia masculina. Logo, se faz necessário a análise de um embate de condutas de dois grupos sociais da própria aristocracia romana: os poetas (masculino) e as matronas (feminino). O masculino que arguia sobre o não acometimento de adultério e o feminino que cometia uma postura contrária.