A obra O pequeno príncipe (1943) foi colocada em domínio público a partir de 2015, quando foram completados os setenta anos da morte de seu autor, Antoine de Saint-Exupéry (1900-1944). Este fato aumentou ainda mais o número de publicações e de discussões em torno daquele livro clássico. Neste contexto, propõe-se uma discussão com bases filosóficas que reflita sobre uma ideia central contida em O pequeno príncipe, a saber: o ato de cativar [apprivoiser]. Uma fundamentação filosófica possível para tal discussão literário-filosófica pode ser encontrada no pensamento de Friedrich Nietzsche (1844-1900), particularmente no segundo momento de sua obra (1876-1882), destacando-se Humano, demasiado humano (1878), livro inaugural deste período, que trata, entre outros temas, dos conceitos de “espírito livre” [Freigeist] e “espírito cativo” [gebunden Geist]. Outras pesquisas que buscaram uma relação entre as ideias de Saint-Exupéry e a filosofia de Nietzsche identificaram algumas semelhanças entre seus pensamentos, o que se justifica, entre outros motivos, pelo fato do autor francês ter sido leitor de obras de Nietzsche. Contudo, o presente trabalho tentará ir por um caminho diferente, ao opor a noção de espírito livre de Nietzsche ao ato de cativar em O pequeno príncipe. Para desenvolver tal diferenciação, será utilizada a figura nietzschiana do “Príncipe Vogelfrei”, que aparece pela primeira vez em um dos poemas que fazem parte dos Idílios de Messina (1881). Por fim, afirma-se que um dos resultados que a presente pesquisa permite consiste na identificação de que o “pequeno príncipe”, comparado ao Príncipe Vogelfrei, pode ser considerado um espírito cativo, enquanto o último corresponde ao conceito nietzschiano de espírito livre.