Inicialmente uma prática de manutenção da cultura entre os imigrantes vindos para o Brasil, o consumo de mídia de entretenimento produzida para a TV e o Cinema japonês apresentou ao nosso país o animê e o tokusatsu, formatos midiáticos que acabaram ganhando o apelo nacional graças a sua multiplicidade de temas abordados juntamente com o enaltecimento dos valores e tradições sociais e/ou ideológicas do Japão moderno. Desse processo surge o otaku, fã que se aperfeiçoa nas práticas de consumo e produção que se fixam em torno da mídia de entretenimento vinda do outro lado do mundo, em especial a indústria dos animês.
Os otaku se organizam em meio a uma estrutura de relações que envolve fandom e a mídia, e também entre a troca de experiência entre si para tornar sua atividade-fã um verdadeiro patrimônio cultural pós-moderno. Tais fãs se constituem, por sua vez, em um conjunto de pessoas que se organizam a partir de gostos e particularidades muito comuns, contudo o campo midiático tem um papel significativo nas formações desses grupos. Neste sentido, propormos refletir sobre a relação mídia e cultura e os fatores preponderantes que contribuem para a formação da cultura de nicho, de modo específico a Cultura Otaku. Dentro dessa perspectiva trabalha-se com os conceitos de Cultura Pop (SATO, 2007), Cultura Participativa (JENKINS, 2009), Animê (MONTE, 2010) e Otaku (BARRAL, 2000) a fim de dar o devido suporte no levantamento de dados e compreensão da formação da tribo social em destaque.
Passando pelas primeiras exibições na TV aberta até o fenômeno midiático da extinta Rede Manchete nos anos 1990, além do fenômeno das revistas especializadas e fanzines que migram do cenário do impresso para o virtual (internet) a disseminação dos animês reverbera diretamente na forma como a tribo social se organiza e desenvolve seus primeiros métodos de consumo de informações. Esse consumo extrapola a narrativa presente nas animações para se apropriar das situações e construções da cultura e do estilo de vida do jovem japonês moderno até a formação de estruturas delimitadas de perfis e atuações do otaku brasileiro dentro do fandom.