RESUMO
Pretendemos com este trabalho, analisar a obra latino-americana Pedro Páramo (1955) de Juan Rulfo, tentando perceber como o ambiente é posto na obra, mas especificamente como a cidade de Comala é caracterizada, para então, fazermos um comparativo entre a personagem que dá nome ao livro e a Cidade onde boa parte da trama acontece, pois o poder exercido sobre o lugar sugere a ideia de posse, que acaba interferindo na identificação da cidade de Comala como uma das muitas cidades míticas. A obra narra a história de Doroteia mãe de Juan Preciado, que está a beira da morte e faz com que seu filho prometa ir a procura de seu pai Pedro Páramo, na cidade de Comala. O romance é apresentado ao leitor de forma não linear, ou seja, repleto de fragmentações, como se houvesse lapsos de pensamento, os quais possibilitam surgir diferentes discursos, em suas dinâmicas de narrativas de fronteiras entre o que é vivido e o que é imaginado, pelos moribundos personagens que vagam no itinerário do texto, criando vivências rumo ao enredo das ações. Na obra desdobram-se narrativas infelizes, que se embaralham com os anseios por vingança, servidão, amores paranoicos, violência, pecaminosidade, desejo de perdão, céu e inferno, que através dos caminhos, “enaltecem as diferenças e refletem a respeito do trânsito de, tempo e espaço fronteiriço, com sua carga simbólica, suas hierarquias e seus limites” FIGUEIREDO (2012, p.135). Ao perceber, ou analisar o ambiente descrito por Juan Rulfo em “Pedro Páramo” é imprescindível pensa-lo por um viés sócio histórico. “A arte e a literatura hispano-americanas do ?eculo XX, atentas aos movimentos vanguardistas europeus, vão repensar seu papel, com os olhos profundamente voltados para uma busca de identidade, e um mergulho nas suas próprias raízes.” (REIS 2009, p. 171). Assim, o autor, descreve o meio ambiente em “Pedro Páramo”, destacando-o sobre duas cidades, Midia Luna e Comala. Sendo Midia Luna a cidade central, pois o cacique/ditador/patrão, aquele que detém maior poder político, econômico e militar está acomodado; e Comala uma nação periférica – que não exerce nenhuma influência social, sendo uma cidade fantoche. Na obra, esta cidade vive dois momentos diferentes, assumindo uma estreita relação entre a cidade de Comala e Pedro Páramo: ambos são construídos nos escombros. O romance parece se fundamentar nessa profunda experiência da complexa relação entre o passado, em seus momentos decisivos, e o presente, transfigurado na vivência dos personagens. Assim, observamos que as fases da cidade de Comala desenvolve uma espécie de interface como o personagem Pedro Páramo: Comala fértil – Pedro Pármo criança, inocente e sem ambições; Comala nostálgica – Pedro Páramo adulto, egocêntrico e ganancioso, tomado pela busca de poder e vingança.