O presente trabalho tem por objetivo apresentar as discussões preliminares do projeto de pesquisa de Mestrado intitulada “El Abrazo de la Serpiente”: o cinema e o ensino de História e Cultura Indígena em sala de aula que visa analisar o uso das produções audiovisuais, em especial as cinematográficas, para a implementação do ensino da história e cultura indígena, circunscrita à determinação da Lei 11.645/2008, buscando dessa forma fomentar a abordagem da perspectiva intercultural e humanística de valorização da diversidade e da pluralidade cultural e étnica da qual é fruto nossa própria sociedade. Intentamos, com a exposição preliminar aqui apresentada empreender uma discussão metodológica acerca da forma como as produções fílmicas vem, ao longo dos anos, construindo diferentes leituras acerca do indivíduo nativo, nas diferentes épocas e sobre diferentes prismas e contextos sócio históricos, buscando assim contribuir com subsídios que deem base aos professores para que desenvolvam discussões mais aprofundadas acerca das reconstruções necessárias a respeito dos povos indígenas como agentes sociais do processo histórico, possibilitando o respeito e o reconhecimento das comunidades indígenas, assim como inserir e possibilitar uma visão mais ampla e diversificada sobre questões relativas a construção identitária, territorialidades e sociabilidades em contextos sócio culturais diferenciados a partir da utilização dos recursos oferecidos pela linguagem cinematográfica e seus usos no ensino da História. Dessa forma, a presente proposta visa perceber, a partir de uma análise comparativas das obras Aguirre a Cólera dos Deuses (1972) do cineasta alemão Werner Herzog e O Abraço da Serpente, (2016) do colombiano Ciro Guerra, de que forma podem auxiliar nas discussões sobre a mudança nas representações acerca das identidades étnicas na América Latina, bem como a oposição entre os pressupostos epistemológicos eurocentrados e as emergências pluriétnicas nos contextos pós-coloniais. Partindo de uma noção de perspectivismo ameríndio, conceito consagrado nas Ciências Sociais, que busca compreender como cosmovisões específicas de diversos grupos étnicos do continente partem de relações ontológicas específicas distanciadas do antagonismo homem/cultura x natureza e como tais percepções podem de fato contribuir para a importância do respeito à alteridade.