Kant como um bom filósofo tem um problema a investigar. Tal se apresenta na seguinte formulação sintética: O que é o homem? Esta é a pergunta com a qual ele resume os três problemas da Filosofia: Que posso saber? Que deve fazer? Que me é permitido esperar? Este último é respondido pela religião. Porém, não é qualquer religião que Kant está a defender enquanto fim de todo caminhar crítico filosófico. Desde o Cânone da Razão Pura (B 823), mais especificamente no Terceiro capítulo, encontraremos a razão desaguando no oceano da liberdade ou da razão pura prática. Este referido desaguar se da em virtude dos objetos que verdadeiramente importam na longa análise que fizera da Razão Pura, em seu uso transcendental, que são a liberdade da vontade, a imortalidade da alma e a existência de Deus. A partir da negação, à Razão Teórica, de ter os objetos supracitados no seu escopo de investigação, deverão aqueles ser recebidos de alguma forma por esta mesma razão. E tal recepção se dará na secção Prática, ou no interesse prático que é a liberdade. No terceiro capítulo desta secção da CRP, encontramos o título: opinião, saber e fé. Aqui Kant demonstra, mais uma vez, racionalmente, a validade do que ele intitula por pressupostos da razão. Estes, necessários para a correta fundamentação da liberdade, e, por conseguinte, da moral. Nesta demonstração Kant enuncia a categoria fé. A caracteriza e a diferencia quanto à percepção que ela pode possibilitar e quanto a seu escopo teórico e prático. Surge aqui o conceito de fé moral que será detalhado em a Religião nos limites da simples razão (1793). Porém, o conceito que buscamos também o encontramos no referido texto, todavia, nossa análise se dará sobre um texto anterior (1786) intitulado Que significa orientar-se no pensamento. Neste, Kant adentra na querela histórica fé ou razão a partir da discussão pública entre Mendelssohn e Jacobi no ano de 1783. O ponto principal ou problema que surge no referido embate pode ser assim apresentado: Qual seria o alcance da razão no que toca os objetos suprassensíveis? Em outros termos, pode a razão suplantar a fé em matéria de Deus? Ora, como ficará demonstrado na CRP, a razão tem um limite de alcance. O que ela não pode abarcar ficará para a Razão Prática, ou seja, o que não cabe no escopo do entendimento, encaixa-se no da razão pura prática. Então, o presente trabalho apresenta uma investigação acerca do conceito fé racional do filósofo Immanuel Kant em seu texto Que significa orientar-se no pensamento. Objetiva-se analisá-lo em seu sentido, referência e escopo. A título de conclusão, afirma-se que mesmo em matéria de crença religiosa, a razão deve direcionar, ou, como diz Kant, servir de bússola no campo dos objetos suprassensíveis.