Segundo Mary del Priore, delimitar o papel das mulheres, normatizar seus corpos e almas, esvaziá-las de qualquer saber ou poder ameaçador e domesticá-las dentro da família adequa-se perfeitamente aos fundamentos da colonização do Império Colonial Português e tais conceitos perduram até os dias atuais. Maria da Tempestade foi escrito em 1962 e retrata uma São Luís do início do século XX, cujo enredo foca na vida de Barbara Macedo Sena, uma mulher forte, destemida e religiosa, que busca viver um amor “impossível” com o jovem Guilherme em uma sociedade extremamente capitalista e racista, onde a rigidez de seus pais – Dona Elisa e Godofredo – para com ela e os irmãos, torna-se motivo de revolta e desunião familiar.
O clima fica cada vez pior a medida que as crianças crescem, até que um deles, Godofredo, vai estudar Medicina em São Paulo, um se casa com uma mulher que só o explora, o outro permanece com os pais aceitando tudo que convinha e Barbara, porém, se apaixona pelo Guilherme – um menino humilde, pobre, mas extremamente honesto – e esse amor faz com que o amado seja preso, ao se envolver em uma briga que termina em assassinato, e condenado à dez anos de prisão, no sul do país.
Perspicaz, ela casa com ele na prisão, engravida e foge de casa para morar com as freiras. A partir do momento que descobre sobre a gravidez, se muda para a casa de Dona Cora Mendes. Ele é transferido para o Sul e a moça fica sem notícias do amado. O pai, Godofredo, adoece e não demora muito a morrer.
Barbara, fica ao lado do pai até seu último dia de vida, contrariando as vontades de sua mãe Elisa. Depois que a divisão de bens acontece, Barbara volta a morar com Cora Mendes e, na noite do parto, com apenas sete meses, a criança nasce morta em decorrência de uma asfixia provocada pelo Ópio que a mãe ingerira, na noite anterior, pensando ser calmante. O livro termina com as duas recebendo crianças em casa, catequizando-as e oferecendo a hora recreativa com músicas que dona Cora tocava no piano, sem Barbara nunca saber o destino do amado.
Este trabalho visa analisar a emancipação feminina e as relações de poder que ocorrem no livro Maria da Tempestade do autor maranhense Godofredo Viana, sob as perspectivas de Engels, através de sua obra A origem da família, e Mary del Priore, em seu livro Ao sul do corpo, bem como outros teóricos que possam influenciar nesse processo.