As inovações científicas e tecnológicas sempre geram impactos na sociedade. Esta, por sua vez, reage aos possíveis avanços com um misto de expectativa e temor, uma vez que nem sempre essas mudanças consideram o desenvolvimento humano e social, produzindo efeitos nocivos, diretos ou colaterais, para a humanidade. A ficção científica surge, então, como uma maneira de refletir acerca daquilo que a ciência mostra como possibilidade para o homem e antever possíveis consequências do desenvolvimento tecnológico em uma perspectiva hiperbólica, a qual leva o possível a extremos que muitas vezes não seriam suportados no mundo do leitor, como um meio para se pensar sobre os caminhos tomados pelos cientistas e suas invenções. O livro Eu, Robô traz ponderações em narrativas curtas sobre como a humanidade seria capaz de lidar com inteligências artificiais, pensando em suas aplicações e nas consequências que impactariam o desenvolvimento tecnológico e as relações humanas e entre homem e máquina, em um conjunto que envolve Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS). Este trabalho tem como objetivo analisar como as previsões de Asimov na primeira metade do século XX para a ciência do século XXI tiveram impacto, e ainda têm, na construção de Inteligências Artificiais. A partir de um olhar interdisciplinar, são observadas as convergências e combinações entre os campos dos saberes científico e literário como um meio de perceber a realidade através da lente refratária do texto narrativo nesse gênero específico. Aponta para os tipos de relação construídas e a crescente percepção da máquina inteligente como um novo sujeito que, quanto mais sofisticado tecnicamente, mais adquire consciência de si e de possíveis emoções. Esta discussão, já antiga, parece ainda mais pertinente nos dias atuais, em que a realidade imaginada por Asimov se aproxima rapidamente das propostas que a ciência nos oferece.