A História Sem Fim é uma obra de alta fantasia – termo cunhado originalmente por Lloyd Alexander em 1971 em seu ensaio High Literature and Heroic Romance para designar obras que apresentam um mundo secundário em contraposição ao mundo primário ou “real” – de autoria do escritor alemão Michael Ende, com sua primeira publicação datada de 1979. O livro também pode ser considerado como pertencente ao gênero fantástico-maravilhoso, de acordo com as definições de Tzvetan Todorov em seu livro Introdução à Literatura Fantástica (1982) pelo fato de que, até aproximadamente a metade da história, tanto Bastian – o protagonista – quanto o leitor hesitam em relação a alguns acontecimentos da narrativa entre uma explicação natural e uma sobrenatural – configurando o fantástico – e, em certa altura, o sobrenatural passa a ser aceito – configurando o maravilhoso. Em determinado momento, Bastian é transportado para o reino de Fantasia, palco da história que até então ele lia. Lá, sua governante, Filha da Lua, lhe entrega sua corrente com um amuleto de ouro, no verso do qual está escrito “Faça o que quiser”. Não coincidentemente, a frase citada é a máxima da Lei de Thelema, filosofia espiritual desenvolvida pelo inglês Aleister Crowley no início do século XX. Posteriormente, Bastian descobre que para retornar ao mundo “real” precisa encontrar, através do “caminho dos desejos”, a sua Verdadeira Vontade. Esta, por sua vez, é um dos termos utilizados dentro da Thelema para designar a realização pessoal do indivíduo, que é alcançado mediante a realização de suas vontades. Este trabalho se propõe a analisar as influências da filosofia de Crowley na obra de Ende, com foco na importância dessas influências nas descobertas de Bastian em sua jornada para retornar para casa. Para tanto, utilizar-se-á como referencial teórico os postulados de Crowley (1999, 2011) concernentes à Lei de Thelema e Todorov (1982), Marques (2015) e Alexander (1971) no que se refere à teoria literária.