Introdução: A escuta de crianças sob o referencial da psicanálise sustenta-se nos conceitos de inconsciente, transferência, falta de objeto e sujeito. O tratamento consiste em tomar o brincar como associação livre, cabendo àquele que escuta uma criança pôr-se a escutar o sujeito através das escolhas pelas brincadeiras e sua maneira de falar delas. Assim, a partir dos significantes, advindos através do brincar, há a possibilidade de simbolização de um lugar de fala. Lucas, de 9 anos, foi atendida semanalmente na clínica-escola da UFMA, através do Projeto de Extensão “Escuta”, sob o referencial da psicanálise. A direção do tratamento seguiu a orientação da técnica do brincar proposta por Melanie Klein. A atenção flutuante, no entanto, foi orientada pelo ensino de Jacques Lacan, em sua assertiva do inconsciente estruturado como uma linguagem. As sessões de tratamento com a criança foram redigidas pelo extensionista e levadas semanalmente à supervisão, com a professora orientadora do projeto. Nesses momentos, o caso ia-se construindo a partir da leitura dos textos de Sigmund Freud, Jacques Lacan, Melanie Klein, Maud Mannoni e Charles Melman. Objetivo: Apresentar o tratamento de uma criança em uma clínica-escola, sob o referencial da psicanálise. Conclusão: O menino Lucas, de 9 anos de idade, foi trazido por sua avó ao Projeto com a queixa de ser “muito agitado na escola, com dificuldades para aprender”. Ao longo do tratamento, com a repetição presente no discurso, deu-se mostra significantes, e daí foi possível acompanhar a elaboração de questões relacionadas à sua história de vida, dentre as quais, o olhar de Lucas para as escolhas feitas pelo pai – usuário de drogas e morador de rua –, ele diz “meu pai tropeçou”. Nas brincadeiras, repete a referência à casa, aos “aliens” e ao dito “não sei contar”. O tratamento permite a Lucas construir outras “casas”, confrontar-se com “aliens” e se contar a cada vez. Conclui-se que ao se levar em conta, do lado de quem empreende uma escuta analítica, a instância simbólica na constituição do sujeito, junto às dimensões de imaginário e real, a partir da simbolização no brincar, há como se escutar uma passagem de sujeito desejante, assim como mostrou Lucas em seu dizer: “ontem quando vim aqui, fui guardar os soldados e, quando contei, ficou faltando um”.