O pensamento ocidental constituiu-se em torno de um sujeito único/universal. Durante séculos, desde a antiguidade, esse pensamento forjou no percurso da história várias articulações para manter sua lógica civilizatória. Nos séculos XVI e XVII com a expansão da Europa para outros continentes e em contato com outras culturas, a linguagem cristã será fortalecida e ocupará um lugar primordial na legitimação de uma ordem político-social androcêntrica. É essa prática discursiva religiosa que inscreve os indígenas e principalmente as mulheres indígenas Tupinambá que habitam as terras baixas sul-americanas como o lugar de significação da diferença, da aberração. Esse imaginário religioso cristão constitui o modo de ser e de agir dos viajantes que são incumbidos pelas nações europeias de registrarem os lugares e os modos de viver dos habitantes do território posteriormente chamado Brasil. Neste sentido, os viajantes imbuídos desse imaginário religioso e patriarcal, não podiam conceber na América a existência de outra organização social e a existência de mulheres detentoras de poder. Desta forma, este trabalho que atua na interface entre a história e antropologia e com alguns referenciais da analise do discurso, tem por objetivo, analisar como esse discurso religioso presente nas narrativas históricas construiu representações das mulheres indígenas em torno da inferioridade perante aos homens, da vulnerabilidade aos pecados e das práticas demoníacas. Porém esses mesmos registros deixam-nos indícios de sua presença e atuação significativa na sociedade Tupinambá.