A presente apresentação tem o objetivo de discorrer sobre questões teóricas e práticas acerca dos usos da mídia audiovisual como suporte para a memória da capoeiragem no Maranhão, marcada pela oralidade e corporalidade, mas que pelo caráter dinâmico de patrimônio imaterial vivo, consegue atualizar suas práticas à realidade tecnológica e seus usos comunicacionais contemporâneos. O recorte temático que aqui apresentamos concentra-se em torno do conhecimento desenvolvido por Antônio José da Conceição Ramos, mais conhecido como Mestre Patinho (1953–2017), ícone da capoeira maranhense, reconhecido nacionalmente e internacionalmente. Seu método de ensino e prática da capoeira, denominado de “Consciência pelo movimento”, foi registrado através de produções audiovisuais que podem ser consideradas formas de “escrita de si”, entendendo o termo a partir da obra de Michel Foucault. Esse processo formula uma “estética da existência”, ou seja, ajuda a constituir a formação de subjetividade “de dentro para fora”, enquanto as regras coercitivas e as instituições constituem o sujeito “de fora para dentro”. Em sua trajetória de 63 anos de vida e 55 de prática da capoeira, Mestre Patinho produziu duas obras emblemáticas e fundamentais para se entender a capoeira do Maranhão: o CD “Mestre Patinho – Capoeira Laborarte” (2008) e o DVD “O novo no velho sem molestar raízes” (2013), que sintetizam sua metodologia de ensino sistematizada de maneira intuitiva e bastante atenta às transformações sociais, ao mesmo tempo em que estão em diálogo direto com os fundamentos e tradição da capoeira. Nosso interesse nessas obras consiste na reunião a um só tempo de conhecimentos corporais da capoeira, que mesclam elementos de dança, música, luta e jogo, com a metodologia de ensino da “Consciência pelo movimento”, registrada pelo meio audiovisual, que apresenta os elementos de corpo, mas também aqueles da ordem musical, cultural e coletiva. Em relação aos produtos elaborados – o CD e o DVD – traduções desse método em forma de mídia digital, nos interessa mostrar como o patrimônio cultural que é expresso pela capoeira encontra estratégias para o registro de sua memória, e também discorrer sobre os modos como essas produções, que agregam sujeitos, tecnologias e práticas, contribuem para melhor agenciar os desafios dos detentores destes saberes populares na contemporaneidade.