Este trabalho objetiva analisar a canção Murders In The Rue Morgue, de autoria da banda britânica de heavy metal denominada Iron Maiden, mediante o estudo do espaço ficcional, pensando-se esse espaço a partir da ideia de Foucault (1999) de que o mesmo é "o ser da linguagem", e seria através deste que a personalidade humana se apresentaria no mundo e para o mundo. Esta canção é baseada no conto homônimo de Edgar Allan Poe (1841), mas difere em alguns aspectos relacionados à um eu-lírico que se apresenta na mesma. A obra de Poe é permeada por uma atmosfera fantástica na qual o espaço ficcional exerce um papel não somente de ambientação, mas também atua enquanto sustentáculo para o que ocorre no texto literário. Dessa maneira, percebemos que ler Poe sem levar em consideração o espaço ficcional significaria deixarmos de lado um importante elemento, sendo este crucial para que possamos construir mundos fantásticos que possibilitam uma narrativa imagética, caracterizada por tons escuros que conduzem o leitor à busca de uma luz que possa dar sentido à narrativa. O elemento do espaço ficcional será visto como disseminador do terror na canção, pois, através das referências espaciais, vemos o eu-lírico locomover-se pelo continente europeu, efetuando uma fuga e alegando sua inocência nos acontecimentos da rua Morgue. Para Michel Foucault, “de modo geral, só há signos significantes, com seu significado, por leis de substituição, de combinação de elementos, por conseguinte, em um espaço” (FOUCAULT, 2000). Desta forma, ainda que acreditemos que a função da linguagem é temporal, já que ela mantém-se no tempo e vai manter o que diz no tempo, o seu "ser" é espacial. Diferentemente do conto de Allan Poe, temos na canção um eu-lírico que se coloca enquanto testemunha dos crimes, mas foge ao ser acusado pelos mesmos. Para o entendimento do elemento terror/fantástico, recorremos à teoria de Todorov (1975) enquanto suporte teórico, e em relação à construção do espaço ficcional, recorremos ao supracitado estudo foucaultiano sobre o espaço na linguagem e, consequentemente, na literatura, além dos estudos de Filipe Furtado (1980) acerca do espaço na construção da narrativa.
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