O discurso relacionado à necessidade da Alfabetização Científica (AC) no contexto atual, para a formação de cidadãos que possam atuar de forma crítica e participativa na sociedade tem se tornado frequente nos materiais que tratam sobre esta temática, e traz consigo uma questão de grande relevância a ser trabalhada, que é a formação de professores para esta finalidade. Partindo da discussão em torno da formação de professores voltada para o ensino de ciências, e considerando a relevância da atuação destes profissionais no processo de desenvolvimento da AC dos estudantes, é que se insere a perspectiva de problematização deste ensaio ao questionar como tem sido pensada e/ou desenvolvida a formação inicial de professores para a AC. Neste sentido, pretende-se discutir sobre a formação de professores para o ensino de Ciências, levando em consideração a preparação destes para o desenvolvimento da AC no ensino básico, mas questionando também esta formação do ensino superior no sentido de fornecer possibilidades de autonomia a este professor para dar continuidade à sua própria AC, entendida como uma atividade vitalícia. Para tanto, aborda concepções de AC e destaca a importância de questionar a ideia de Alfabetização Científica para todos; apresenta a situação da formação de professores para o ensino de Ciências, que tem se dado de forma precária, e discute sobre a necessidade de se formar professores intelectuais transformadores, que tenham autonomia em torno da sua própria prática e formação, que também é contínua. Nesse contexto, o que se tem percebido ao longo da trajetória do ensino de ciências no Brasil é que a formação de professores no intuito de promover uma AC de qualidade não tem ocorrido de forma satisfatória, se apresentando bastante precária até, como se encontra na literatura que trata sobre o tema. Cachapuz et al (2011) afirma que a formação de professores pouco tem contribuído para a promoção da AC, tanto do próprio licenciando, quanto do futuro aluno deste licenciando. Essa visão é também compartilhada por Fourez (2003, p. 111) ao mencionar que “a formação dos licenciados esteve mais centrada sobre o projeto de fazer deles técnicos de ciências do que de fazê-los educadores e quando muito, acrescentou-se à sua formação de cientistas uma introdução à didática de sua disciplina”. Deste modo, é possível verificar a urgente e necessária reestruturação e renovação deste ensino e de suas finalidades, apesar desta ser uma situação complexa, visão esta, compartilhada por Cachapuz et al. (2011) e Martins (2005). São vários os desafios para o ensino de ciências e estes são de várias ordens, além de todos estarem interconectados. Esses desafios dizem respeito às condições de trabalho e finalidades do ensino; à formação básica e continuada, que não pode ser desvinculada do papel desempenhado por este profissional na sociedade em que vive, no caso uma sociedade científica e tecnológica; e a alfabetização para o diálogo.