Esta comunicação propõe a análise do romance O Quarto Século (1986), de Édouard Glissant. Para tanto, discute-se as relações entre tempo, memória e diáspora a partir dos conceitos advindos dos estudos culturais e da crítica literária contemporânea. Para isso, procura-se rever as concepções de memória presentes em Maurice Halbwachs, Michael Pollak, Roland Walter, entre outros. Em seguida, relacionam-se esses conceitos à discussão sobre diáspora africana, cujas contribuições de Stuart Hall e Homi Bhabha são fundamentais. No romance O Quarto Século (1986), Glissant cria uma ficção que indaga sobre o tempo e a memória. Na busca da origem por meio da escrita, Glissant constrói uma linguagem particular, em que tematiza problemas como a apresentação do passado, a morte, a relação com o outro, a revolta, a exclusão, o distanciamento e a própria memória. Estão na pauta de nossa análise, além da ideia de reconstrução do ser humano enquanto corpo e mente enraizados na sua terra, a da descolonização da não-história, envolvendo a retificação das distorções históricas, de forma a problematizar a resistência à perda, expropriação e desterritorialização, o não-pertencimento cultural e identitário no espaço diaspórico do Caribe, representados na narrativa literária de Édouard Glissant. Isso porque uma das mais marcantes características do discurso afrodescendente é a evocação do passado pela memória. Reescrever a história tem sido um esforço constante desses escritores através da diáspora desde a chegada às Américas. Ao emergir da experiência do colonialismo e escravatura, escritores da diáspora africana encontraram-se perante uma história escrita pelo outro, carregada de ideologias dos poderes coloniais que governaram seus respectivos países por séculos (WALTER, 2009). Nossa proposta é discutir sobre estas questões a partir da leitura do romance de Glissant.