O DIREITO À LITERATURA COMO PLATAFORMA ILUMINADA: uma análise do conto “O Leitor”, de Teolinda Gersão

  • Autor
  • Rosângela Guedêlha da Silva
  • Co-autores
  • Márcia Manir Miguel Feitosa
  • Resumo
  • “Sempre gostei de ler e nunca pensei que daí me pudesse vir algum mal” (GERSÃO, 2002, p.179) - essa frase inicia e resume a história do conto “O Leitor”, da autora portuguesa contemporânea, Teolinda Gersão. Por meio de uma análise fenomenológica hermenêutica, esta comunicação traz uma leitura desse conto, à luz do pensamento de Antônio Candido (2011) sobre o poder humanizador da literatura, dialogando, sobretudo, com os estudos de Maria Heloísa Dias (2008) a respeito da escrita gersiana. O narrador-personagem, um maquinista de comboio, conta o episódio da perda do emprego ao ser flagrado lendo na cabine de controle do trem no horário de trabalho. Ao buscar na leitura, sobretudo dos romances policiais, o deleite e o relaxamento, o escapismo, em sua vida privada, ele revela que a percepção do universo literário lhe impele a refletir sobre o extraliterário. A inserção de reflexões críticas acerca da existência humana acontece ao longo de todo o texto, sendo essa condição expressa poeticamente como uma existência duplamente em linhas: as dos livros sobre as quais seus olhos deslizavam “como um bicho lento e voraz” e as do comboio percorridas no comando de um “bicho rápido e voraz” (GERSÃO, 2002, p.182). Em diálogo com as ideias de Candido sobre o efeito da literatura na alma humana, percorrer as linhas do comboio garantia à personagem a sobrevivência material, mas percorrer os livros, alimentava sua existência. Uma progressiva construção de analogias entre o universo literário e o extraliterário vai se configurando no texto. A perspectiva reflexiva amplia-se do pessoal para o social pela percepção de que sua vida não era a única “presa às linhas” da rotina do cotidiano. O discurso metalinguístico serve de base para a construção de um jogo discursivo mais profundo. “A força com que a ficção penetra na realidade assim é em virtude das projeções criadas pelo ato de contar.” (DIAS, 2008, p.89). Ao admitir-se “embrenhado na leitura”, a personagem assume seu estado de imersão no universo textual, tal como ao afirmar que “era seguir assim, por um túnel escuro e chegar, de quando em quando, a uma plataforma iluminada” (GERSÃO, 2002, p.190). Evidenciou-se uma tessitura textual que reflete nela mesma o caminho de transcender à alienação por meio de um jogo simbiótico entre o textual e o real. O texto tensiona o íntimo pessoal e o coletivo social, o ficcional e o real por meio da forma como anda entre esses dois universos. Assim, constitui-se em uma singular ficção, cuja escrita envolve os leitores (textual e real) num jogo encantatório poético de tal forma que se lancem ambos na travessia pela linguagem rumo à plataforma iluminada, em um possível efeito humanizador.

  • Palavras-chave
  • Conto “O Leitor”, Direito à Literatura, Literatura Portuguesa Contemporânea
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