O iluminismo do século XVII possibilitou ao homem ganhar autonomia para desenvolver mecanismos culturais, sociais e políticos, sem a dominação absolutista. Porém, a modernidade gerou forças opostas, que criam novas modalidades de alienação, como atestaram os filósofos da Escola de Frankfurt. Para Adorno e Horkheimer (2006), as barbáreis que assolaram o século XX tem a marca de um racionalismo que perdeu sua autônima crítica, e deturpou-se em uma razão instrumentalizada a serviço de um mundo administrado pelo lucro e dominação do homem pelo próprio homem, ou seja, a razão que antes estava a serviço de um esclarecimento que visava a liberdade humana, o reprime. Neste totalitarismo racional, toda forma de conhecimento que não seja planificado, matematizado, é rechaçado, consequentemente a sensibilidade e emoções humanas são reprimidas diante tal predomínio. Em 1963, o escritor paulista André Carneiro publicou o conto de ficção científica O diário da nave perdida em uma coletânea homônima. O conto traz uma sociedade futurista utópica dominada pelo pragmatismo tecnicista, na qual a harmonia da coletividade é mantida através da repressão das emoções humanas pela ingestão de drogas. As consequências do totalitarismo racional são desveladas no decorrer do enredo, pois um casal vaga pelo espaço e, cada vez mais, contam com menos recursos para reprimir seus sentimentos. O conto é um vertiginoso embate entre o racionalismo e as pulsões humanas, entre uma cultural de progresso tecnicista e a sensibilidade humana. Além dos apontamentos dos filósofos Adorno e Horkheimer (2006), serão levados em consideração os estudos do sociólogo polonês Zygmunt Bauman (2014) a respeito das relações humanas na pós-modernidade.