Com o intuito de abordar as percepções sobre intolerância e autoritarismo, este artigo visa explorar através de recursos literários como no caso é feito com a obra do escritor argentino Julio Cortazar no conto Ônibus, presente no livro Bestiário, buscando compreender uma possível associação com as relações sociais e seus pontos de intolerância que surgem com bases em concepções e modos de vida que se fazem divergentes diante de uma lógica construída que é observada e aceita, os quais muitas vezes se fazem legitimados por uma visão de “um outro como ameaça”, podendo intervir até mesmo dentro do próprio cenário político estabelecendo instabilidades e polarizações. Partindo disso, pontuando como objetivo central deste trabalho, leva-se em consideração a elaboração de novas pesquisas relacionadas às ditaduras e governos autoritários latino-americanos, com ressalvas articuladas pela interdisciplinaridade entre Literatura e História, percebendo a relação do autor com o contexto vivido na região a qual se faz pertencente, sendo influenciado diretamente pela realidade vivida durante a construção da obra. Contribuindo para novos olhares e estabelecendo novas percepções sobre momentos históricos e comportamentos sociais, a leitura de tal conto visa ultrapassar as fronteiras literárias, proporcionando análises profundas sobre os fatores que condicionam os elementos aversivos e que podem muitas vezes vir até a se caracterizar e instrumentalizar tendências repressivas ao outro, fundamentando discursos de ódio e de terror social. Como parte principal de fundamentação deste trabalho destaca-se o conto Ônibus, já mencionado em linhas anteriores, buscando problematizar seu enredo que envolve a temática associada a essas visões de opressão, a qual cobra noções de adequação do indivíduo à uma norma social, além de trabalhar com o auxílio de teóricos como Roger Chartier e O mundo da representação, Hannah Arendt e o sua obra As Origens do Totalitarismo e Vigiar e Punir de Michel Foucault.