RESUMO
A figura do diabo geralmente é retratada como a principal imagem representativa do mal absoluto, seja nos textos bíblicos ou no imaginário coletivo de diversas culturas. Mesmo na contemporaneidade a representatividade negativa do diabo continua a “assombrar” os pensamentos humanos, tanto no aspecto espiritual e cultural, quanto no espaço ficcional. Conquanto, na literatura, existem autores que se dedicam a desconstruir imagens ou ideias compreendidas como absolutas; exemplo disso é José Saramago. Na obra O Evangelho Segundo Jesus Cristo (1991) o autor subverte a construção das personagens quando desconstrói a pureza dos “bons” e minimiza a mácula dos “maus”. Um desses personagens é Lúcifer, o diabo, que acompanha Jesus Cristo, desde o seu nascimento, até a fase adulta, agindo não como um tentador, querendo desviar Cristo do caminho por Deus traçado, mas como “conselheiro”, que expõe um outro ponto de vista para as determinações de Deus. A proposta desse trabalho é analisar a narrativa de Saramago, pelo viés da desconstrução, quando deturpa a figura de Lúcifer, amenizando o seu caráter demoníaco e evidenciando um aspecto mais humano. Como aporte teórico para os conceitos de desconstrução e personagem o presente estudo lançará mão dos estudos do estudioso Evandro Nascimento, com o livro que discute as ideias do filósofo francês Jacques Derrida, O Quinto Evangelista – O (des)evangelho segundo José Saramago (1998), de Salma Ferraz, e o livro A Personagem de Ficção, de Antônio Candido.