A natureza é um tema encontrado na filosofia de Immanuel Kant, percebido em várias de suas obras, ora fundamentando a ideia de uma história universal cosmopolita, ora aparecendo como vital para o estabelecimento da perpetuação da paz em sua reivindicação jurídica. Contudo, na transversalidade dessas questões encontramos uma tensão entre conflito e sociabilidade, todavia são contrastes não paradoxais, pois ganham um olhar na filosofia kantiana como dimensões próprias da natureza no processo humano para o melhoramento da espécie, onde se estabelece uma discussão entre guerra e paz. Kant dedica um opúsculo exclusivo para temática da paz (A paz perpétua), todavia pensá-la na dimensão da natureza implica ter como pressuposto a insociável sociabilidade apontada pelo o filósofo em Ideia de uma história universal do ponto de vista cosmopolita, tanto quanto a hipótese aí defendida acerca de um progresso humano. O que nos coloca diante do fato de que a guerra tanto pode contribuir para tal progresso quanto servir como elemento contrário à condução da própria natureza. Queremos, portanto, compreender o enfretamento kantiano em relação ao conflito social dentro do paradigma da natureza, analisando no conjunto de seu sistema filosófico a explanação de uma crítica à institucionalização da guerra. Nos chama atenção nesse contexto, se guerra pode ser vista na própria dimensão do conflito trazido pela natureza, ou será ela um elemento outro, ocasionado pelo um declínio moral, pois uma vez que a paz precisa ser percebida a partir do direito, como resolução definitiva dos conflitos, a guerra, portanto, se encontra em qual perspectiva na filosofia kantiana? Desse modo, a natureza, ao mesmo tempo, direciona o homem ao conflito, e tem no melhoramento moral o fim ultimo a ser alcançado pela espécie. A natureza em Kant comporta uma dialética, um movimento que nos chama a atenção em torno do debate sobre conflito e sociedade, se tornando fundamentação relevante para os estudos interdisciplinares, no campo da filosofia, do direito, da estética e da história, bem como de tantas outras áreas das ciências humanas e sociais aplicada.