O período colonial europeu acabou por volta do final do século XIX e início do século XX por meio da emancipação política de diversas nações ao redor do mundo que estiveram debaixo do domínio europeu por pelo menos quatro séculos. Esses povos, até então sujeitos ao domínio e alteridade europeia, passariam por um extenso e complexo processo de descolonização em todos os aspectos: culturais, políticos e ideológicos. Não obstante, embora o colonialismo político tenha chegado ao fim durante esse período, a cultura hegemônica europeia, cultivada a partir do pensamento imperialista que vigorou durante o colonialismo, ainda perpetuou por longos tempos. As ideologias eurocêntricas continuavam a monopolizar os padrões sociais através de seu discurso opressor e segregacionista. As nações oriundas de ex-colônias foram recolocadas dentro da sociedade, isto é, passaram de colonizados à condição de subalternos. Diversos eram os fatores segregacionistas, principalmente, no que tange às origens. A etnia dos povos subalternos continuou subjugada e sob o estereótipo de inferioridade. Esse fato pode ser constatado na história do povo afrodescendente pertencente ao território hoje conhecido como Estados Unidos. O negro americano é marcado por violentas experiências em seu legado histórico, pois além da escravidão, ainda experimentou difusos tempos de segregação racial por meio de leis que o diferenciava das pessoas brancas. As composições literárias de autores afro americanos são marcadas de forma recorrentes com os ressentimentos adquiridos a partir desse histórico de opressão e descaso. Dentre os autores destaca-se Toni Morrison, que traz como protagonista de sua obra O Olho mais azul (1970), uma menina negra de nove anos que deseja ardentemente ter os olhos azuis e a pele branca para que possa provar do “mundo de conforto limpo” (MORRISON, 1970, p. 54) ao qual pertencem as pessoas brancas. Em constante conflito com sua aparência, Pecola acredita que se transmutando será amada igual os brancos que ela conhece. Diante disso esse trabalho objetiva mostrar as relações étnicas retratadas na obra de Morrison (1970), como a autora reflete acerca do discurso segregacionista que objetifica os indivíduos a partir dos fatores étnicos. Para isso, será utilizado como aporte teórico os princípios da teoria do discurso pós-colonial e os apontamentos de autores como, Frantz Fanon (1980), Bell Hooks (2009), Kabenguele Munanga (1986) e Thommas Bonnici (2009).