Este estudo busca fazer uma análise da novela Umbra (1977) do escritor gaúcho Plínio Cabral à luz de estudos sobre memória como os trabalhos de Maurice Halbwalchs (2006), Michael Pollak (1989; 1992), Paul Ricouer (2007), Maria Paula Nascimento Araújo e Myrian Sepúlveda dos Santos (2007), Eurídice Figueiredo (2017). A produção artística e literária constituíram formas de dizer o que a ditadura militar instaurada no Brasil nos anos de 1960 tentou silenciar. Esta obra no leva a refletir sobre a importância da memória para ressignificar o presente e elaborar perspectivas futuras. Retornar ao passado é fundamental para imaginar e criar expectativas futuras. Quando as memórias são conduzidas para o esquecimento, as gerações futuras correm o pergo de ficar sem referências. Em Umbra, como as personagens são identificadas por meio de códigos numéricos e habituadas a não questionar sua condição de sobrevida dentro da Fábrica, lugar em que vivem e que supre todas as necessidades básicas para sua existência. Algumas vezes, as pessoas se reúnem para ouvie memórias do futuro, enquanto o Velho, que é umas das principais personagens, é o único que consegue ir mais além dos limites da Fábrica e o único que conhece a arte de pescar Mosqueixes, seres metamorfisados pela condição ambiental altamente degradada em que se encontra a terra. Além disso, é o único que conhece as lendas que remontam, de certa forma, o passado da Cidade Morta, que foi matada pela ambição humana e sua sede de poder. As lendas são protagonizadas por Heróis que se empenham em proteger os recursos naturias da ação humana e são os únicos que possuem nome. Assim como as lendas são narrativas descredibilizadas pelo conhecimento ciêntífico, na novela de Plínio Cabral, elas também não possuem o status de verismo, apesar de serem o único acesso ao passado. Este é o motivo pelo qual o Velho tenta, a todo custo, repassar os seus conhecimentos, tanto da atividade de pesca quanto das lendas para o Menino, levando-nos a pensar acerca da importância da transmição das memórias de uma geração para outra para que elas não se percam no tempo. Com o intuito de também contribuir com os estudos já existentes neste universo, esta análise aborda a memória associada ao discurso literários engendrado pela Ficção Científica Brasileira (FCB), gênero não canônico, no entanto revelador de interstícios com os quais as memórias narradas, no caso da obra, sob forma de lendas, se preocupam em desvelar. Para tornar o estudo mais significativo, lança-se mão dos estudos da pesquisadora de Ficção Científica Brasileira Naiara Araújo (2014) que abraça este gênero como um campo revelador do discurso literário engajado, ao se posicionar contra argumentos de alguns críticos, tais como Elizabeth Ginway, que o consideram, no Brasil, desvinculado de quaisquer pontos de vista acerca da realidade político-social pela qual passava o país nas décadas de 1960-1970.