Os estudos pós-coloniais abriram, para a economia do conhecimento, novos caminhos epistemológicos que visam proporcionar às pesquisas nas ciências humanas e sociais outras possibilidades crítico-teóricas, diferentes daquelas que prevaleceram como paradigmas universais eurocêntricas. Desta maneira, lança-se mão de propostas teórico-metodológicas sugeridas por Torres (2008) e Matta (2014) que orientam para uma geocrítica ao eurocentrismo, tendo em vista que as imagens forjadas do sul global pelo Ocidente sempre partiram de um ponto de vista depreciativo para as culturas e as formas sociais de organização social que não correspondiam ao padrão imposto pelo europeu. Em diálogo com estas perspectivas, este trabalho tem o objetivo de analisar o romance Lueji, o nascimento de um império, de Pepetela, numa perspectiva afrocêntrica, conforme propõe Asante (2009) e Castiano (2010). De acordo com estes estudos, é imprescindível que o africano se torne sujeito-agente de sua própria história em detrimento de uma perspectiva hegêmonica eurocêntrica. É a partir de seu lugar, Angola, que Lu tenta resgatar um passado encoberto pelo ocidente. A história da rainha Lueji e do império Lunda inspiram a bailarina a compor um espetáculo baseado num passado e num tempo mítico. A literatura se coloca como engrenagem que reforça a criação de epistemologias locais para contribuir para economia do conhecimento africano. A Tradição se torna o ponto principal dos conflitos nos dois espaços e tempos. Contudo, tanto em Lunda quanto em Luanda, percebe-se que este aspecto é muito relevante para as discussões sobre a ruptura com as estruturas de poder que a história tem de instaurar por meio do saber.