Os contos de fadas são estórias que remetem ao mundo lúdico, de fantasias. No ocidente, sua origem remonta a tempos antigos e a diferentes culturas pelo mundo. Mas, foi com o francês Charles Perrault no século XII que estes são disseminados. Ao longo dos tempos, os contos de fadas sofrem modificações, se adequam a ideais, valores morais, religiosos, serviram de arquétipos aos que teriam contato com os mesmos. Dos enredos assustadores adquirem narrativas suaves, com uma “moral” a ser seguida ao seu final com direção ao público infantil. Nesse estudo, a proposta é refletir sobre a representação da mulher em tais contos, tendo por referência o conto da “Cinderela” afamado pelos Irmãos Grimm. Discutir como as relações de gênero se fazem presentes no mesmo. “Cinderela” retrata uma mulher jovem, constantemente maltratada pela madrasta e irmãs, motivadas principalmente, pela inveja de sua “beleza”. Situação que se altera com a ida da jovem a um baile em que conhece e se apaixona pelo príncipe. Dentre diversos desencontros entre o príncipe e a borralheira, padrões tais como força, coragem, enaltecem o masculino, enquanto os de bondade, delicadeza, obediência, característicos da jovem, ao mesmo tempo em que demarcam o destino social da mulher: mãe, esposa e do lar, ao lado do contrato do casamento, como saída para fim do sofrimento. Parte-se do pressuposto de que os contos de fadas não tratam somente de histórias distrativas, estes se aprofundam, ditando padrões, estereótipos, sentimentos, comportamentos, que evidenciam, propagam e naturalizam relações de gênero marcadas pela cultura patriarcal. Dessa forma, tais histórias reproduzem relações de desigualdade de gênero, pois são prenhes de simbolismos que estereotipam as formas comportamentais e as ocupações sociais de homens e mulheres. Determina o espaço público, a razão, a força, ao primeiro, e o espaço privado, a emoção, a delicadeza à segunda. Com base nas obras de Scott (1995), Saffioti (2004), Bourdieu (2007), procura-se refletir acerca dos elementos e categorias ideológicas presentes no conto em tela, na qual estão imbricadas as relações de poder e desigualdades de gênero, construídas histórica e socialmente na e pela cultura patriarcal. O que faz dos contos de fadas, da forma atual em que são disseminados, com hierarquias, prestígios, lugares diferenciados entre os seres humanos, agravados pelas condições de raça e classe, instrumentos potencializadores da disseminação de uma cultura desigual, que contribui para a exploração, submissão e humilhação das mulheres.