A discussão em torno da ideia de espaço é antiga. Os gregos já falavam sobre isso. As reflexões dos pré-socráticos sobre a origem de todas as coisas foram situadas num espaço denominado de physis (cosmos); tudo vem a existir no espaço, logo a existência do “ser” está condicionada ao espaço. Heidegger, na modernidade, elabora o conceito de “ser-aí”, ou seja, um ser que se inscreve num espaço, e que só “é” na medida em que “está”. Bachelard (2008) diz que é “preciso dizer então como habitamos nosso espaço vital de acordo com todas as dialéticas da vida, como nos enraizámos, dia a dia, num ‘canto do mundo”. Benjamin, por sua vez, (1987), ao falar sobre o narrador, situa-o em um espaço, categoria fundamental para a narrativa. Esse narrador ora habita um espaço geográficamente delimitado do qual nunca migrou, ora se desloca em vários espaços: o primeiro é camponês sedentário e o segundo o marinheiro comerciante, modelos arcaicos de narradores. Benjamin (1987) também vai entender o espaço enquanto reminiscência, reconstrução de lembranças, uma imagem memorial que é construída ao voltar ao passado, articulando-o com o presente. Na obra literária, o espaço assume uma característica que ultrapassa a demarcação territorial, adentra na subjetividade e torna-se subjetivo. Neste sentido, o espaço assume a função de elemento constitutivo da própria subjetividade, participando do processo de construção da identidade do sujeito. A necessidade de localização espacial é intrínseca ao sujeito; é inconcebível a ideia de pensá-lo a partir do nada, por isso o espaço é inerente ao “eu”, sendo, por conseguinte, constitutivo da subjetividade. Propõe-se, neste trabalho, pensar o espaço sertão dentro da produção poética de Patativa do Assaré, poeta cearense, nascido em Serra de Santana, cidade de Assaré, que é autor da poesia de tradição oral, tendo o sertanejo e o sertão como centro da sua produção. Na obra Inspiração Nordestina (1956), primeira obra de Patativa, o sertão se presentifica no sujeito poético, identificando-o enquanto homem do sertão. O próprio poeta é um sertanejo que cria um eu lírico sertanejo para falar do sertão e dos sertanejos, de forma que lugar e sujeito estão íntima e indissociavelmente ligados. Nesse sentido, o sertão vai além da ideia de espaço físico, encontrando no imaginário popular seu repouso. Vaqueiros, lendas, comidas típicas, roupas, ideologias, narrativas, enfim, todo um discurso construído entorno do que é o sertão, que se caracteriza como um lugar singular dentro do Brasil.