O presente trabalho visa refletir sobre a interface literatura e filosofia, tendo como ponto de partida o romance inacabado O homem sem qualidades, de Robert Musil. Objetivamos tecer algumas considerações acerca desse romance na relação entre a narrativa ensaística e o projeto literário-filosófico de Musil tal qual os interpretamos. A partir disso, compomos o nosso texto em três momentos: (1) pontuar alguns aspectos da vida e obra do autor, apresentar o enredo do romance O homem sem qualidades e enfatizar alguns tópicos negativos da obra nomeados como “qualidades contraditórias”, segundo Maurice Blanchot no texto “Musil” (capítulo de O Livro Por Vir); (2) caracterizar a posição do narrador, mais especificamente, no romance moderno, atribuindo a esse momento propriedades do ensaio, segundo Theodor Adorno em “O ensaio como forma” e “Posição do narrador no romance contemporâneo” (capítulos do Notas de Literatura I); (3) como último ponto, destacar o modelo ensaístico na escrita musiliana e entender como ela se coaduna à escrita filosófica tendo como fundamento os textos de Castro (2011): “Aspectos da relação entre ensaio e experiência em Montaigne e Musil” e “Sobre o ensaísmo de Robert Musil”. Desse modo, o trabalho apresenta uma síntese provisória em torno das características da narrativa moderna com base tanto na conceituação do ensaio-filosófico presente no romance O homem sem qualidades como na possibilidade que a própria obra literária pode despertar no leitor o pensamento filosófico.