Nas últimas duas décadas, os fluxos de estudantes que partiram do Brasil para estudar no ensino superior em Portugal caracterizaram-se não apenas por uma maior intensidade como também por uma diversidade social e étnico-racial mais ampla. Com efeito, os fenómenos de internacionalização e mobilidade estudantil Brasil-Portugal têm demandado dos investigadores das ciências sociais e humanas uma análise crítica de horizontes mais alargados, de alcance transdisciplinar e sensibilidade para enveredar por novas metodologias (Alcoff, 2016; Maldonado-Torres, 2016). Partindo de referenciais teóricos-conceituais de autores da crítica de(s)colonial, esta comunicação tem o objetivo de apresentar resultados de investigação de doutoramento concluída em 2021 que permitem perceber como distintas dimensões identitárias de subalternidade (de género, raça e nacionalidade, por exemplo) combinam-se e contribuem para um despertar descolonial durante a experiência de estudar em Portugal. Com suporte de software estatístico (SPSS versão 25), utilizamos a interseccionalidade como método (Lutz, 2015; Mackimnon, 2013) para analisar as respostas a um inquérito por questionário online de 394 estudantes do Brasil que, entre 2012 e 2020, frequentaram instituições portuguesas de ensino superior. Os resultados evidenciaram que, muito embora as situações de racismo tenham sido vivenciadas ou presenciadas com maior frequência entre as estudantes negras, o “preconceito colonial” (Santos, 2016) também foi testemunhado por estudantes da raça/cor branca, denunciando obstáculos para a interculturalidade. Um outro aspecto decorrente deste estudo concerne à importância da experiência da internacionalização presencial que colocou em evidência o facto de, nos espaços académicos portugueses, persistirem diferentes formas de colonialidade, não separáveis das lógicas do capitalismo e do eurocentrismo.
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Victor Barros
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