Há nos estudos migratórios sobre a população brasileira imigrante na Alemanha uma grande lacuna com pequenas ilhas de intenções. Alguns temas muito caros aos estudos migratórios – como saúde e migração, migração e mídia, migração e trabalho, entre outros – bastante comuns em outros contextos do sistema migratório brasileiro, são, no contexto alemão, quase inexistentes. Nessa comunicação, pretendo abordar um desses temas, qual seja, as representações midiáticas e seus impactos sobre a construção de experiências migratórias de uma população migrante. Para tanto, lanço mão de uma categoria da Análise de Discurso Crítica da Escola de Duisburg, os eventos discursivos, (JÄGER 2017) para construir um corpus para interpretação de textos de um jornal alemão de prestígio e de grande circulação nacional. O corpus se constitui de 32 textos que foram categorizados em 6 gêneros textuais, e que abordam 10 categorias temáticas com distintas frequências de ocorrência. As categorias temáticas com maior número de ocorrência são violência, gênero, cordialidade e protestos, com 08 ocorrências cada. Nesta comunicação exploro as interpretações de um dos principais textos que trata das categorias gênero e prostituição. A interpretação aponta para a reiteração de representações que vinculam mulheres brasileiras à prostituição, ao sexo e à erotização, também em veículos midiáticos cujo público-alvo é composto por uma classe média intelectualizada. No nosso contexto migratório, marcado por uma população com alta taxa de feminização, a reinvenção cotidiana de tais representações pode, quiçá, ser um dos muitos fatores que, juntos, atuam para que em um contingente populacional composto por 64% de mulheres, apenas 17% da emissão de títulos de residência para exercício de trabalhos altamente qualificados tenha sido feita em favor de mulheres no ano de 2020, enquanto os 36% de homens que compõem essa população ficaram com 83% de tais títulos de residência (BAMF, 2020).
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Victor Barros
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