No ano letivo 2019/2020 os alunos de nacionalidade brasileira matriculados nos ensinos básico e secundário em Portugal Continental representaram quase metade do total de alunos (31.824, que equivale a 46,8%) de nacionalidade estrangeira no país (Oliveira, 2021). Nesse contexto, entre as fragilidades do sistema de educação público português podem identificar-se uma cultura de reprovação que resulta numa assimetria social nos resultados escolares, sobretudo entre estudantes socialmente vulneráveis e com origem afrodescendente (Mateus, 2020; Seabra et al, 2018). Estudos realizados junto a alunos de origem imigrante brasileira na Área Metropolitana de Lisboa encontraram evidências de discriminação por parte da comunidade escolar (colegas, professores e funcionários não docentes) frente a estes jovens, apesar de, em geral, se salientar uma experiência escolar positiva e um grau razoável de integração nas escolas portuguesas (Seabra e Mateus, 2020). Outro aspeto analisado entre a comunidade brasileira é a discriminação linguística (sotaque) identificada em discursos de jovens residentes em Sintra (Gaspar e Iorio, 2020). Esta constatação tem sido reportada a vários níveis de ensino, refletindo na atualidade as persistentes desigualdades históricas implicadas na diversidade inerente ao pluricentrismo da língua portuguesa (Matias e Pinto, 2020). Para refletir sobre estas temáticas, o objetivo da presente comunicação é analisar os discursos de jovens de origem brasileira que frequentam o ensino secundário nos concelhos de Lisboa, Cascais, Sintra, Amadora e Odivelas. Esta análise é baseada em 34 entrevistas semiestruturadas realizadas entre 2021-22 a jovens de origem brasileira. Os resultados obtidos indicam que os discursos sobre a discriminação que têm sido alvo por parte da comunidade escolar, se centram, sobretudo, em questões linguísticas. Neste âmbito, o papel dos professores enquanto agentes escolares pode, eventualmente, reproduzir comportamentos discriminatórios em sala de aula trazendo consequências para o bem-estar emocional e académico dos alunos de origem brasileira (D’hondt et al, 2021).
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Victor Barros
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