A Amazônia brasileira, em especial Roraima, representa uma das principais novidades nos estudos sobre migração internacional na América do Sul. Entre 2017 e 2024, o ingresso de mais de 900 mil venezuelanos por Pacaraima (74% do total de ingressos de venezuelanos)1 trouxe profundas transformações na dinâmica geopolítica da região, fenômeno que levou à organização da primeira intervenção de caráter humanitário centrada nas migrações internacional no Brasil: a Operação Acolhida (Jarochinski Silva; Albuquerque, 2021). Seja pela histórica presença do Exército nas fronteiras amazônicas, pela experiência prévia dessa instituição com emergências humanitárias, pela omissão do poder público local e estadual, ou devido às instabilidades do poder executivo federal, a Operação Acolhida consagrou um modelo de gestão humanitária que mescla militarismo e humanitarismo (Amar, 2020; Watson, 2009). Esse trabalho tem por objetivo fazer um balanço dessa Operação, entendendo-a como expressão da consolidação de Roraima como fronteira-tampão global (Agier, 2006; Baeninger, 2024). Do ponto de vista metodológico, a pesquisa fundamenta-se nos dados oficiais publicados pela Plataforma de Coordenação Interagencial para Refugiados e Migrantes da Venezuela, nos registros administrativos da Polícia Federal brasileira e no acompanhamento às estruturas da Operação Acolhida. No conjunto, essas evidências empíricas reforçam as características específicas de Roraima na era das migrações (Castles; Miller, 2003), demandando esquemas interpretativos que destaquem as dimensões do Sul Global e do Brasil nesse contexto.
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Victor Barros
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