Os Transtornos Mentais Relacionados ao Trabalho (TMRT) constituem importante problema de saúde pública, gerando perdas expressivas de produtividade e custos estimados em quase US$ 1 trilhão anuais. No Brasil, sua detecção ganhou reforço legal com a inclusão dos TMRT na Lista Nacional de Notificação Compulsória em 2024. Este estudo objetivou analisar a tendência temporal das notificações de TMRT no país entre 2006 e 2024, comparando os períodos pré-pandemia, pandemia e pós-pandemia da COVID-19. Trata-se de série temporal ecológica, construída a partir dos casos registrados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) via TABNET/DATASUS. Foram extraídos ano de ocorrência e número de casos; as notificações foram classificadas em pré-pandemia (2006–2019), pandemia (2020–2022) e pós-pandemia (2023–2024). Para cada fase aplicou-se regressão linear simples, obtendo-se coeficiente angular (?) e coeficiente de determinação (R²). No período analisado registraram-se 27.389 TMRT: 12.862 antes da pandemia (média 918,7/ano), 5.792 durante a pandemia (1.930,6/ano) e 8.735 após seu pico (4.367,5/ano). Os ajustes lineares mostraram crescimento progressivamente acelerado, com ? de +169 casos/ano (R² = 0,933) no pré-pandemia, +611 casos/ano (R² = 0,992) na pandemia e +1.049 casos/ano (R² ? 1,000) no pós-pandemia. Assim, a média anual praticamente dobrou em 2020-2022 e quadruplicou em 2023-2024 em relação à linha de base, sugerindo que fatores psicossociais desencadeados ou agravados pela COVID-19 mantêm efeito duradouro sobre o adoecimento mental ocupacional. Embora sujeito a possíveis sub-registros e ao curto intervalo pós-pandêmico, o estudo evidencia necessidade de fortalecer a vigilância em saúde do trabalhador, implementar programas de prevenção de riscos psicossociais e ampliar a captação e qualificação das notificações de TMRT em todo o território nacional.
Comissão Organizadora
Victor Barros
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